É verdade, o David mudou de escola, e começa já amanhã as aulas. É claro que esta mudança foi bastante ponderada e acompanhada de muitas dúvidas e incertezas. Mas acabámos por decidir assim, e a avaliar pela reacção dele hoje ao conhecer a nova escola, acho que foi uma decisão acertada.
Não é que esta escola seja melhor em termos de espaço físico, nisso acho que fica a perder em relação à outra, onde o espaço exterior se estende ao longo dos pavilhões, em relvados verdes com árvores altas e frondosas. Aqui o chão do recreio é apenas de alcatrão, e árvores acho que nem há nenhuma na zona onde os miúdos brincam, apenas se vê um pouquinho de verde apertado entre o edifício, velho, grande, como uma fábrica, e o muro, um espacinho onde há alguma relva e umas árvores mas que nem chega para os miúdos brincarem.
Mas acho que em termos humanos e emocionais ele ficará a ganhar. A outra escola tem bons professores e bom pessoal, só que fica numa zona problemática, há muitas mães solteiras (crianças sem pai, portanto), problemas de alcoolismo, enfim, as crianças apresentam alguns problemas de comportamento como indisciplina, agitação, mau comportamento. Isto nas palavras de Mrs Smith, a professora assistente do David, que mora na mesma rua que nós e a quem eu um dia de manhã dei boleia. Ela tem os filhos dela nesta escola e falou-me nisso, perguntou porque é que eu não punha lá o David, pois além de ser mais perto de casa (é mesmo no cimo da nossa rua) a escola é muito boa.
Esta conversa com ela deixou-me a pensar. Eu sempre gostei da escola onde ele andava, tanto por achar que os professores e o pessoal eram de qualidade, como pelo espaço exterior que já descrevi. Tinha sido a primeira escola do David, para onde ele entrara apenas em Janeiro (é, parece que já foi há muito tempo mas foi apenas há 9 meses) e parecia-me demasiado prematuro uma mudança, justamente agora que ele já estava a começar a adaptar-se àquela escola. Mas por outro lado, nas poucas vezes em que me foi dado estar dentro da sala do David, no meio de uma aula (apenas alguns minutos) eram muitas as constantes repreensões aos miúdos. Porque não paravam quietos no tapete, porque não estavam calados, porque não tinham feito o trabalho como deve ser, por tudo. Este comprtamento era apenas evidenciado por um grupo de rapazes da turma, mas era o suficiente para que se instalasse no ar um clima de tensão, caras rudes, tristes, palavras duras e secas. Comecei a pensar como seria estar numa sala em que a professora está sempre zangada, mesmo que não seja sempre connosco, mas com os nossos colegas, aqueles que já são nossos amigos e com quem brincamos no recreio. Ainda para mais o David detesta confusão, e a confusão ali é o pão nosso de cada dia. Comecei a pensar que aquele não seria o melhor ambiente humano para ele (apesar da professora gostar dele e de ele ser um dos melhores alunos), achei que, mesmo que não fosse sempre atingido por todas aquelas repreensões (algumas vezes se calhar também será, ele também não se porta sempre bem, como é evidente!), elas iam pesar na mesma e iam fazer mossa na mesma. E acho que um clima assim não é de todo o melhor para uma criança aprender. Por isso resolvi que era melhor ele mudar de escola.
Claro que falei imenso sobre isto com o pai dele, que concordou comigo. Só falatava a aceitação do David, e aqui senti um pouco de apreensão. Porque, mal ou bem, aquela já era a sua escola, aqueles já eram os seus amigos, e adivinhei que não ia ser fácil mais uma mudança. Já foram tantas, em tão pouco tempo! A primeira vez que lhe falei nisso ele não gostou muito da ideia. Depois expliquei-lhe que este ano ele ia ter uma professora nova e alguns meninos da sala dele iam sair, mesmo se continuasse na mesma escola. Disse-lhe que a escola nova era mais perto de casa e que lá os meninos não se portavam tão mal (disse-lhe que também havia meninos a portarem-se mal, que todos os meninos se portam mal de vez em quando, mas que aqueles não se portavam tão mal nem tantas vezes). Ele concordou e hoje foi comigo ver a escola e ficou todo entusiasmado! Amanhã vão entrar outros meninos novos com ele e acho que vai correr tudo bem, vai ser mais um passo em frente que ele dará com toda a facilidade, como tem feito até aqui.
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