quarta-feira, setembro 14, 2005

OBEBÉNÃQUÉLILÀCOLA VERSÃO II

Lembram-se? Pois é, recomeçou! Já há alguns dias que o Diogo, ao ver o irmão ir para a escola, se manifestava: "E o bebé, nã vai à cola? O bebé nã quél..." E quando lhe falávamos dos meninos, e dos brinquedos que lá iria encontrar, a mesma obstinação, a mesma negação pronta: "O bebé nã quél il!!"

Mas lá foi, mais exactamente ontem! E é claro que o choro continuado e prolongado lá recomeçou, enquanto se agarra a mim, a dizer, por entre os soluços: "O bebé quél a mãe... quél a mãe..." É realmente uma tortura, mas lá tive de o deixar. Como estava lá a Paula, a educadora portuguesa que ele já conhece, fiquei mais descansada. Mas o que eu não sabia é que me estava reservada uma surpresa.

Quando o fui buscar, ao fim da aula da manhã, ele estava de roupa nova. Pensei, pronto, mais uma vez fez cocó e elas não o mudaram logo e aquilo esparramou-se pela roupa! Ainda por cima ele agora usa aquelas cuecas que são como as fraldas, mas aguentam muito menos... isto porque já está a começar a fazer no bacio, mas só às vezes, porque nem sempre pede e acaba quase sempre por fazer nas ditas cuecas. Isto eu também tinha falado com ela, mas não estava à espera que ele pedisse para ir ao bacio naquela situação de angústia que é o primeiro dia, por isso tinha-lhe pedido para ter atenção caso ele fizesse.

Mas o caso ainda era pior do que parecia. Mal entrei ela disse que precisava de falar comigo, e depois explicou-me o que acontecera: ele fizera cocó nas cuecas e as outras duas auxiliares tinham ido com ele para o bacio. Depois, segundo lhe contaram, porque ela ficou sozinha na sala a tomar conta das outras crianças, ficaram a limpá-lo durante para aí 25 minutos porque ele não parava de fazer cocó, muito mole, a casa de banho ficou cheia de cocó, ele sujou-se todo, enfim, um autêntico banho de merda! Agora até me estou a rir, mas na altura não achei graça nenhuma!

Bom. No período passado, ele teve uma diarreia que não passou muito facilmente, e até houve um dia em que o mandaram para casa porque ele não podia estar assim na creche. Insistiram para eu ir ao médico porque achavam que ele devia estar com algum problema. Mas era só uma diarreia, que demorou um pouco mais a passar, também porque eu lhe fiz uma sopa com feijão verde um pouco cedo demais, achei eu na altura. Depois outro dia em que ele voltou para a creche deram-lhe sumo de groselha, e ele piorou, claro (logo nesse dia à tarde fez mais diarreia!). Ele lá melhorou, mas a diarreia não passa de um dia para o outro, e quando lhe recomecei a dar a alimentação normal (porque entretanto estivera de dieta) o cocó voltou a perder a consistência, e elas voltaram a dizer que devia haver algum problema, que aquilo não era normal.

Depois foram as férias, e agora isto. Eu achei aquilo estranho porque ele agora está a comer sopa, carne e peixe, e está bem, só ainda está um pouco reticente em relação ao bacio (não se quer sentar) e depois deve aguentar até à última e quando já não aguenta começa a queixar-se com dores no rabo e na barriga. Mas geralmente depois lá faz o cocó e aquilo passa. Acho que isto pode ser uma reacção emocional à entrada para a creche. Mas ele depois fica tão bem, diz ela, pára de chorar e fica a brincar tão bem! Está bem, mas isso não quer dizer nada. Mas onde raio é que esta gente tem formação para tomar conta de crianças?

É isto que mais me aflige, esta falta de senso para entender as crianças. Imagino o filme: ontem a maior parte dos meninos choravam, eles nem são muitos, mas elas só são três e não podem dar atenção exclusiva a cada um. Depois com aquilo do Diogo a fazer cocó as outras ficaram meia hora com ele na casa de banho (!) e ela ficou sozinha com as outras crianças a chorarem. O Diogo deve ter-se sentido perdido, não conhecia as pessoas que o estavam a limpar de lado nenhum, e a atitude delas deve ter sido tudo menos calma e tranquila perante a situação (uma delas até vomitou!). Se calhar não gostam de limpar cocós. Ninguém gosta, mas caramba! E depois insistiam que ele deve ter algum problema porque a quantidade e a consistência não eram normais para aquela idade.

Bem. O Diogo veio para casa ficar com o pai e eu voltei para as aulas da tarde. A roupa dele estava impecavelmente limpa, apenas tinha um bocadinho de cocó seco na etiqueta das calças e na parte de baixo da camisola. Ele ficou bem, óptimo, à tarde fez outro cocó normalíssimo, de consistência vulgar, e assim está desde ontem. Mas vamos com ele ao médico, claro, acho que devemos sempre ter o cuidado de despistar qualquer problema.

Quem é que não sabe o que é uma caganeira na véspera de um exame? Ou de um acontecimento especial? Ou devido a um ataque de nervos? E o que significa para uma criança de 2 anos e meio a volta para a creche, depois de tanto tempo sem ir? Não há aquelas que vomitam sem parar quando vão para a creche? As que adoecem? As que não páram de chorar um minuto? É nestas alturas que sinto falta de uma creche com pessoal compreensivo e com bom senso, com formação adequada e uma boa relação humana. É claro que infantários assim escasseiam, mas não podemos ficar de braços cruzados. Porque eles é que têm de promover um ambiente calmo e tranquilo para as crianças, e assegurar a quantidade de pessoal necessária para cada situação. E as pessoas têm de ter formação e conhecimentos adequados, e não podem colapsar devido a uma situação destas! E depois ainda por cima olham para mim como se eu é que fosse a responsável, porque tenho o menino doente e não o levo ao médico!

É caso para dizer: que grande merda! A minha vontade às vezes é, sei lá, deixá-lo ficar em casa, abrir um infantário, ir à procura de outro! Mas sei também que não há sítios perfeitos e que ele vai acabar por se adaptar, e até é desejável que isso aconteça. Antes das férias ele adorava ir para a escola, até já pedia! Vamos ter confiança, é melhor pensar assim do que ficar a maldizer a nossa sorte!

4 comentários:

Armanda disse...

Quando tive a Marianna, em casa li o livro do Brazelton sobre os pais trabalhadores. Em inglês chama-se "working and caring". Eu li em português. Havia um rapariga com muito poucos meios que tinha que pôr o seu bebé num infantário onde o berçário era de má qualidade porque não havia uma pessoa especializada para bebés pequeninos e os bebés a pouco e pouco deixavam de interagir com os pais pois no berçário a empregada não falava nem olhava para eles. Ela sentia-se como tu, não gostava do que se passava, mas não tinha opção. Ela falou com a directora do infantário, juntou os pais todos dos bebés e conseguiram que cada um passasse uma manhã ou uma tarde no berçário para ajudar a tomar conta dos bebés. A situação melhorou muito. Não estou a dizer que tenhas de fazer isto. Mas quando a situação é esta e não há a possibilidade de os pôr noutro lado, temos de tentar encontrar algo positivo nela. Eu tenho a sorte de ter os miúdos num sítio onde encontro poucos defeitos, mas há sempre coisas a melhorar. Desde que li aquela história comecei a ser muito mais interventiva. Sempre pela positiva pois não podemos pôr-nos a criticar, elas estão a fazer o trabalho delas e não gostam. Mas às vezes também elas precisam de ajuda.Temos de fazer com que elas conheçam os problemas dos miúdos. É claro que não conheço a situação, talvez isto não seja possível no caso...

papu disse...

Muito obrigada pela sugestão :))
O infantário não é assim tão mau, o maior problema que eu encontro é que o pessoal muda todos os dias, pois a creche está integrada num Colégio para adultos, portanto só funciona com os meninos dos alunos que frequentam o colégio, e o pessoal que trabalha ali só trabalha num dia da semana, nos outros dias trabalham noutros sítios, segundo me apercebi. Isto é um pouco errado, pois acaba por não haver continuidade na relação entre as crianças e as pessoas que estão com elas. Depois também pelo que me apercebi a formação dessas pessoas não é a melhor... enfim, há muitos defeitos, a verdade é essa. De qualquer forma, há também pessoas mais competentes e acredito que as crianças ficam bem (se de facto houvesse algum tipo de negligência penso que as crianças dariam sinais). O melhor indicador é realmente a reacção das crianças, e tirando o stress do regresso à creche, o Diogo ficou bem das duas vezes e no período passado adorava. É isso que me deixa mais tranquila.

Armanda disse...

Por favor, não penses que eu estava a dizer que o infantário era muito mau. Não era isso que eu queria dizer. Só queria mostrar que em qualquer situação em que estamos podemos sempre tentar melhorar. Com relação a isto dos infantários sinto-me sempre um pouco impotente porque a outra hipótese era, como tu dizes, abrir um infantário :-) E não gosto de ter de baixar os braços. Pareceu-me que sentes o mesmo. Por isso falei no livro. Naquela altura mostrou-me que podemos sempre tentar fazer qualquer coisa e, na perspectiva de ter de deixar a Marianna dentro de pouco tempo, fez-me bem.

papu disse...

Não te preocupes, eu percebi o que querias dizer. Também concordo que devíamos ser mais interventivas nestas coisas, às vezes acomodamo-nos quando devíamos era pôr-nos a fazer "barulho" como essa mãe da história que contaste. Olha, eu desde que os meus entraram para a creche que sempre encontro coisas menos boas (más, más mesmo, acho que nunca encontrei) e depois quero fazer alguma coisa para mudar e sinto-me impotente. Também porque às vezes ficamos nesta de achar sempre que há pior, e eles até estão bem, e fazer alguma coisa dá tanto trabalho e depois ninguém nos ouve e sentimo-nos tão impotentes que deixamos andar... mas acho que não devíamos mesmo, e isto aplica-se a mim, que também me acabo por acomodar. É o caso. Mas acho mesmo que ele fica bem, e por isso não estou assim tão preocupada. Se visse alguma coisa que não me agradasse mesmo acho que teria outra atitude. Aparece sempre :)