quarta-feira, outubro 12, 2005

MAZELAS DA PROFISSÃO

Geralmente, se posso, não me apresento como psicóloga, e agora tornou-se mais claro porquê. Passo a explicar.

Quando sabem a minha formação as pessoas, regra geral, mudam de comportamento, ou assumem determinada atitude que me desagrada um pouco. Aqui nos cursos que estou a frequentar esta atitude tem-se traduzido, por um lado, por acharem que eu já estou por dentro dos assuntos, e quando uma questão é colocada ao grupo, não esperam que eu responda (é como se me atribuíssem um estatuto diferente do resto do grupo, um estatuto de superioridade, neste caso, e eu, consciente dele, devesse prescindir da minha participação pois isso iria impedir as minhas colegas de chegarem às respostas por elas mesmas), e por outro lado, e ainda dentro desta atribuição de um estatuto especial, esperam que eu dê a minha opinião profissional, o meu ponto de vista de psicóloga, acerca de questões triviais, tais como se é mais fácil educar rapazes ou raparigas.

Sempre embirrei com aquela frase com que sempre me brindam: "então e a psicóloga, o que é que acha?", "mas tu é que és psicóloga, deves saber!" ou "temos aqui a psicóloga para nos esclarecer..." quando em conversas informais surge algum tema ou questão relacionado com a vida ou os sentimentos ou qualquer coisa do género. Parece que as pessoas partem do princípio que nós temos algum entendimento especial ou um terceiro olho que nos permite ver coisas que os outros não vêem. É claro que temos conhecimentos específicos e dominamos técnicas de intervenção da nossa área, mas isso acontece em qualquer actividade profissional, e só se aplicam ao seu exercício. O nosso entendimento do que é a vida e das questões sentimentais é igual ao comum dos mortais, ou seja, depende mais da nossa experiência de vida do que propriamente do nosso grau académico.

Lembro-me de uma vez, aí em Portugal, quando dei formação a um grupo de futuras amas e auxiliares de educação, em que na primeira sessão, para pôr as pessoas mais à vontade e a falar de si próprias, sugeri que se apresentassem através de um desenho. Houve uma formanda que me perguntou timidamente: "Desculpe lá a pergunta, mas vai-nos estudar através do desenho?" Na altura deu-me vontade de rir e disse que não, que apenas queria que o desenho fosse um meio para eles partilharem informações de forma lúdica. E tentei explicar que não tenho capacidades especiais que me permitam "estudar" uma pessoa a partir de um desenho, aliás, acho que ninguém tem. Mas acho que não convenci ninguém, pela cara que eles fizeram. É verdade, muita gente nos atribui uma espécie de poder especial, sexto sentido, como se fossemos bruxos e pudéssemos adivinhar ou intuir características das pessoas através do seu comportamento, ou através dos desenhos ou através dos sonhos... É evidente que existe a interpretação de todas estas coisas na minha profissão, mas não se trata de adivinhação! Resulta de todo um processo conjunto entre o terapeuta e o cliente de procura e atribuição de valores e significações relevantes dentro da vivência emocional dominante. Um processo que não existe sem a atribuição de significados ou a sua confirmação pela própria pessoa envolvida.

Se querem que vos diga, e abrindo aqui um pequeno parêntesis, tenho o maior respeito pelas ciências parapsicológicas, dizendo de outra forma, pelas pessoas que lêem a mão, as cartas, as bolas de cristal, que fazem o mapa astral e todas essas actividades que muita gente acha uma aldrabice. Aldrabões há em todas as profissões e em todas as actividades, é a minha opinião. E já tive uma amiga à minha frente a dissertar sobre mim como se tivesse o meu coração em livro aberto à sua frente... e era apenas a palma da minha mão que ela olhava, juro-vos! E também encontro muito sentido na astrologia e no seu conhecimento, quando se trata de reconhecer características pessoais da personalidade e vivências emocionais. Tenho uma amiga, com quem já não contacto há bastantes anos, que adora astrologia e que é capaz de adivinhar o signo ou o ascendente de uma pessoa, depois de passar algum tempo a falar com ela. É verdade, eu já assisti! Aqui há uns anos ela fez-me a carta do céu e eu achei aquilo mesmo muito interessante e batia tudo certo comigo! Foi ela sem dúvida quem me despertou o interesse para esta realidade.

Mas não quero ir por aqui, este tema fica para a próxima. Isto era só para dizer que de facto há pessoas com uma sensibilidade especial para "ler" o comportamento dos outros, para compreender, para interpretar sinais mais ou menos evidentes, há pessoas com mais intuição do que outras, mas esta característica é intrínseca ao ser humano, como qualquer outra capacidade ou talento. Acho que não se aprende na escola nem na universidade, antes se desenvolve ao longo da vida.

Aliás, e na minha opinião, na escola e na universidade aprende-se muito pouco. Ou melhor, aprende-se e adquirem-se uma data de ferramentas que nos vão ser úteis pela vida fora (profissionalmente e não só) ou não... E aqui é que a porca torce o rabo. Porque às vezes andamos literalmente a perder tempo, a aprender coisas que não nos vão servir para nada... mas isto também é outra conversa. Onde eu queria chegar é que aquilo que trazemos com o canudo é muito pouco, mesmo muito pouco, e não é isso que nos vai construir como profissionais. Esse caminho temos de o percorrer com as nossas pernas, com a nossa vontade, e também com a nossa emotividade e com a nossa criatividade (e com mais uma data de coisas que não vou estar a listar porque seria exaustivo demais!).

Quando fiz o meu curso de Formação Pedagógoca de Formadores, uma das coisas que me ficou como ponto importante foi a importância de cada elemento do grupo para a promoção da sua heterogeneidade. É que esta é uma ferramenta fundamental para o formador. Muitas vezes pode acontecer (e acontece mesmo muito!) que no grupo exista alguém que percebe mais do assunto em discussão do que o formador. E nós como formadores pensamos logo, que horror, o que vou fazer? Nada disto! Isto é normalíssimo, aliás, nós não somos detentores do conhecimento e em qualquer área há sempre alguém que sabe mais que nós! Temos é de saber aproveitar isso a nosso favor! Como? Pedindo a colaboração dessa pessoa, convidando-a a partilhar o seu conhecimento com o grupo. Isto não é trocar de papel, porque numa formação é fundamental a participação de todos e todos têm uma palavra a dizer porque todos têm uma perspectiva diferente de cada questão e é isso que é enriquecedor!

É por isso que eu não percebo (e sinto-me mal) quando a professora pergunta o que é que entendemos por Cognitive Benefits e quando vê que eu tenho alguma coisa a dizer me faz sinal e diz, "oh, not you, I'm sure you know" ou qualquer coisa deste género! Não estamos numa aula, onde precisamos de fazer boa figura para a professora e acertar nas respostas, pois não? É claro que eu tenho um conhecimento do assunto mais profundo do que qualquer das minhas colegas, mas porque não partilhá-lo? Porque não aproveitar o meu conhecimento para tornar o assunto mais claro para as outras? E todas elas têm conhecimentos que eu se calhar também não tenho, e ainda bem que assim é! E depois eu não sou daquelas pessoas que tem de mostrar que sabe, que tem de fazer brilharete, a maioria das vezes até nem falo já porque acho que aquilo para mim é tão óbvio... mas isso faz-me sentir à parte, como se não pertencesse ao grupo, e acho que não está correcto.

É como a questão dos rapazes e das raparigas. Estávamos todas a falar sobre isso, umas achavam que as raparigas eram mais difíceis, outras que eram os rapazes, e estávamos num cavaqueira animada. Havia alguém que só tinha meninas, outras só meninos, outras tinham meninos e meninas e às tantas a professora perguntou-me a opinião, e eu disse que só tenho rapazes, de maneira que não tenho experiência de ser mãe de meninas, mas ela fez uma cara surpreendida e acrescentou, mas é psicóloga não é?, estava a pedir a sua opinião profissional! E o que é que eu lhe respondi? A mesma coisa: não sei! Opinião profissional sobre este assunto não tenho, não senhor! Apenas tenho a opinião de mãe, que é aquela que é relevante para o caso! Não estamos a falar de lidar com rapazes e raparigas em geral, mas sim como mãe e pai, porque raio é que tenho de ter uma opinião enquanto psicóloga? Se não tivesse filhos não faria a mínima ideia, aliás antes de os ter não fazia!

O que as pessoas às vezes parecem não entender é que antes de sermos psicólogos somos pessoas, e são as nossas experiências de vida, exactamente como acontece com toda a gente, que mais contribuem para a construção da nossa forma de lidar com o mundo, para a nossa forma de ver a vida, para as nossas opiniões, para a nossa pessoa. Opinião profissional só a devemos ter em contexto profissional, porque é impossível formá-la noutro contexto! Isto não significa que não possamos contribuir com a perspectiva que o conhecimento da nossa profissão nos dá, numa conversa ou troca de ideias. Mas geralmente não é isto que as pessoas querem, ou do que estão à espera quando pedem a nossa opinião de psicólogos. A mim o que me parece é que esperam de nós que tenhamos sempre uma explicação para tudo, uma resposta clara à dúvida existencial do comum dos mortais, uma visão objectiva a sobrepôr à visão subjectiva dos não psicólogos. E isto é completamente errado, na minha opinião. Não possuímos o dom da objectividade, nem a resposta ou a teoria que tudo explica, nem sequer mais certezas do que as outras pessoas.

Mas pronto, isto foi só um desabafo. E só acontece de vez em quando, não é a regra. E a formadora do curso de Pre-School Practice é espectacular, e não tem de todo esta atitude, deixa-me falar e não me coloca de parte (e verdade se diga que se não fosse assim também nunca abriria a boca, because it's really hard for me to speak about this subject in other language! Mas cá se vai andando e progredindo, valha-nos isso!).

2 comentários:

Ana G disse...

concordo.
concordo e solidarizo-me.

Anónimo disse...

It is slightly heavy with the battery pack, weighing over 1
lb. Below the lens is a stereo microphone, which is well placed and unlikely to pick up all
the noise from your hands scraping the camcorder.
, but in my opinion this mini camcorder would be a great gift for college students
or even high school students. The one real flaw with the Panasonic TA-1 is its durability.


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