- O pai Natáli vem?
- Vem, filho, no dia de Natal.
- Puquê?
- Mas o pai Natal só vem se nós nos portarmos bem, não é, mãe?
- Sim, filho...
- Os meninos que se portam mal não levam prendas, pois não?
- Ó filho, só se os meninos se portassem muito, muito mal é que o pai Natal não lhes dava prendas...
- Só assim os que roubam e assim?
- Pois...
- Eu p'a cá acho que os ladrões, a mãe deles era muito maluca e não os ensinou bem e foi por isso que eles ficaram ladrões...
- Se calhar foi, filho... Mas olha, sabes (e engoli em seco) há meninos que se portam bem e não têm prendas de Natal...
Dois olhos interrogativos e perplexos fixam-se nas minhas palavras.
E eu engulo outra vez em seco:
- Há meninos que não têm prendas... ou porque não têm dinheiro, os pais não têm dinheiro... e também há meninos que não vivem com os pais...
- Mas porquê?
- Ou porque os pais já morreram, ou porque...
Não, não fui capaz de lhes dizer que há pais que abandonam os filhos. Não fui capaz, pronto! Em vez disso disse-lhes que há pessoas sem dinheiro e sem possibilidades de criarem os filhos e que os têm de mandar para uma instituição... isto claro dito numa linguagem mais acessível... mas é difícil, porra!
- Mas porque é que mesmo os pobres têm de pagar as coisas?
- Toda a gente tem de pagar, filho. E depois há pessoas que têm muito dinheiro e há outras que não têm nada... E há pessoas que nem têm dinheiro para comprar comida...
- Mas então assim depois morrem de fome!
- Pois é, querido, no mundo há pessoas que morrem de fome.
O David fica pensativo. Depois diz:
- Sabes, eu acho que essas pessoas más que ficaram com o dinheiro todo foi quando os bons estavam a dormir e depois quando acordaram os maus tinham ficado com o dinheiro todo e essas pessoas tinham ficado pobres! E não puderam fazer nada!
- Pois é, filho, deve ter sido assim...
Como explicar-lhes que nesta luta desigual não são os "bons" que vencem?
Como explicar-lhes que quem governa o mundo são os "maus"?
5 comentários:
Tenho duas sobrinhas, hoje com 11 e 14 anos, mas que, em tempos, originavam situações muito semelhantes à que contas aqui. E é de facto impressionante como, por vezes, é difícil explicar-lhes certas coisas depois de atirarem com frases que, aparentemente, estão tão certas. A visão inocente da vida é de facto maravilhosa!!!
Bjos pá família in London
É verdade, a visão deles é tão pura... e nós sentimo-nos uns criminosos quando temos de os confrontar com a realidade, não é?
Eu às vezes adio o confronto, confesso. Também acho que ele é inevitável, vai acontecer, mais dia menos dia, não é preciso ter pressa... eles têm os olhos abertos para o mundo, muito mais abertos do que a gente pensa.
beijinhos pá família Pim também! :)
Também acho que vou adiar alguns confrontos. Espero é que esse adiamento não seja eterno, como aconteceu com tantas coisas com os meus pais. Mas, pronto, isso também não levou a que me tornasse numa pessoa mal formada. Felizmente!
p.s.: hoje foi dia das vacinas do segundo mês. Chorou tanto a minha pinxeja, tadinha. Chorou como nunca a tinha visto chorar. Foi às lágrimas, pobrezinha :(
Mas, pronto, já passou.
Beijokaaaas* :)))
Tadinha... eu lembro-me tão bem... são de partir o coração, esses choros! Vinha de lá sempre angustiada! E depois eles ficavam um pouco agitados, acordavam a chorar de repente a meio do sono, nesse dia e no seguinte! Deviam estar a sonhar com aquela pica maldosa!
Beijinhos para a tua pinxeja :)
Hoje ainda não voltou a rir-se...
:( Deve estar sentida e pensar que fui o culpado por toda aquela dor. Fica para amanhã.
Boa noite*
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