segunda-feira, dezembro 05, 2005

ILUSÃO

Acho que a paixão é uma ilusão, no sentido de que raramente é pela pessoa real que está ali que nos apaixonamos - e sim por uma construção nossa, idealização, fantasia. (Utopia?)

Aliás, nós não nos apaixonamos só por pessoas - apaixonamo-nos por coisas, por ideais, por causas, por grupos, por ideias, por projectos, por lugares, por imagens, enfim, por uma infinidade de situações que nos despertem uma emoção fortíssima. E, aqui também, raramente é pela coisa em si que nos apaixonamos - e sim por toda a elaboração que fazemos dela, a construção de que falava há pouco - aquilo que o nosso olhar empresta às coisas, aquilo que é nosso e que assim ilumina e transforma a realidade.

É claro que depois do impacto da paixão vem a estalada da realidade. Estalada porque pode ser de uma forma brusca que nos apercebemos de repente da outra face daquilo (ou daquele) por que nos apaixonámos. Mas também pode ser um processo gradual (e demorado). Mas raramente é um processo pacífico. E raramente chega ao fim. (Ou melhor, quando chega ao fim acho que a paixão acaba).

Porque se nos pudéssemos despir (e despir o outro) de toda esta imagem fantasiosa, se pudéssemos dissecar com o olhar, como um cirurgião, o corpo da nossa paixão, tirar-lhe o invólucro da ilusão, como quem desembrulha ansiosamente e com rasgões definitivos um embrulho de Natal - se pudéssemos assim despojar-nos de toda a idealização, que graça teria o mundo?

Será que nos apaixonaríamos por alguma coisa (ou por alguém) se realmente fossemos capazes de ver o outro (e o mundo) tal qual ele é, na realidade crua, objectiva, concreta?

E que olho humano conseguiria tal proeza?

É que esta capacidade de ilusão (fantasia, idealização, transcendência) é aquilo que nos torna humanos e únicos uns para os outros - que nos emociona, nos engrandece e nos elege.

7 comentários:

Paulo Silva disse...

Quando nos apaixonamos ficamos
cegos,e quando abrimos os olhos por vezes é tarde demais.
Obrigado pelo seu comentário.
Foi com aquele texto que eu tentei
calar a minha dôr e revolta.
BJOS.
PAULO SILVA.

papu disse...

Pelo teu comentário, então! Não sejas tão formal! :)

pelos vistos era mesmo a tua história. Fico triste. E desejo-te muita força para ultrapassar essa dor (se é q é possível) :((
Bjos

Tilangtang disse...

moça
subscrevo na totalidade

Pim disse...

Odiaria que os meus olhos fossem capazes de tal proeza. Um pozinho de ilusão aqui, mais uma pitada de realidade ali e temos o mais próximo da perfeição que conseguimos.
Na verdade, considero que o nosso olhar sobre as coisas ou pessoas não deve despir totalmente essas coisas ou pessoas, do mesmo modo que essas coisas ou pessoas não podem cegar-nos ao ponto de deixar-mos de ver o lado real que elas têm.

Desculpem as repetições
Beijinhos, papu :)

Miduxe disse...

Muito bem dito!
bjs

sm disse...

E não é bom assim??? Sem exageros, claro?!?!? Sem que a ilusão tolde a nossa visão da realidade?!?!

Bem... estou a divagar, não ligues, não liguem!!!

***

papu disse...

É mesmo para divagar! :)))

Até porque não há uma realidade, não é? A realidade é diferente para cada pessoa...

Cada pessoa vê as coisas à sua maneira, cada pessoa pinta o mundo com as cores da sua imaginação, cada pessoa tem um olhar próprio sobre o mundo...

E no fundo é esse olhar que é a sua realidade...

E é da junção das realidades diferentes que se constrói a humanidade...

Beijinhos para todos. Obrigada pelos vossos comentários :)))