domingo, dezembro 11, 2005

INFORMAR AS CRIANÇAS SOBRE DROGAS?

As campanhas de prevenção da toxicodependência aqui começam mais cedo. Sim, na primária, ou seja, no 1º ciclo. Já foi há uns tempos que tivémos a primeira reunião sobre o assunto. Esta atitude para mim reflecte uma das áreas em que este país é realmente mais avançado. As preocupações são as mesmas em todo o lado: informar. E a preocupação principal para estes grupos etários é: como informar? De que forma transmitir essa informação? E curiosamente (ou não) as dúvidas também são as mesmas: como informar crianças desta idade, sem correr o risco de essa informação ser prejudicial para elas? Dito de outra forma, será que é desejável que crianças tão novas tenham acesso a esta informação? Não há a hipótese de elas ficarem na posse de informação a mais, de forma desadequada para a sua idade?

A informação nunca é demais, portanto nunca correremos o risco de estar a informar demasiado. É óbvio que para estes grupos etários a transmissão da informação terá de ser ajustada à idade, o que quer dizer que há um grande trabalho a fazer ao nível tanto do conteúdo como da maneira como essa informação vai ser apresentada. Evidentemente não se vai falar com crianças de 5 anos da mesma forma que com crianças de 11, 12 ou 13 anos.

Mas é vital que a informação comece cedo, de preferência a partir destas idades! É a idade em que os miúdos vão começar a ouvir falar de droga, não tenhamos ilusões. As pessoas espantam-se e assustam-se: mas tão novinhos? Meus senhores: as crianças não são surdas nem burras. Elas estão atentas, e muito mais atentas que os adultos, à realidade que as envolve. É claro que vão ouvir: nos recreios, na televisão, em conversas... E depois há outro preconceito nesta área que ainda ataca muita gente: é o de associarem o uso e abuso de drogas a substâncias ilegais. Há muitas drogas que são legais e que até estão guardadas nos armários das nossas casas: os medicamentos. Muitos pais consomem drogas diariamente à frente das crianças: o tabaco e o álcool. Portanto, a droga faz parte da vida das crianças.

E depois, como sempre, há o medo da informação, um medo injustificado mas que está muito presente, mesmo aqui. Na reunião havia muitos pais assustados com a hipótese de os filhos ouvirem coisas para as quais ainda não estão preparados. Este medo da informação está também muito presente em relação ao tema da sexualidade. Eu nunca percebi este medo. Então não falar das coisas, não estar informado, não é muito pior? Imaginem o cenário: qualquer criança, mais tarde ou mais cedo, vai ter contacto com a realidade das drogas (mesmo das ilícitas) seja porque ouve no recreio, seja porque vê alguém a consumir, seja porque ela própria a experimenta. Então não é muito melhor que, quando tal acontecer, ela já saiba do que se trata, já esteja informada (e informada dos riscos e das consequências para a saúde)?

É a mesma coisa que com a sexualidade. A sexualidade faz parte da nossa vida. Porquê o medo da informação? As pessoas acham que se falarem com os jovens sobre sexo eles vão a correr praticá-lo. Como se, por não se abordar o assunto com eles, isso os tornasse assexuados (e acho que é mesmo essa a vã ilusão de muita gente, da maioria dessa gente que acha que o melhor é não falar sobre nada, não vá o diabo tecê-las!)

A informação não faz mal a ninguém, a informação protege-nos e faz-nos tomar opções mais conscientes e coerentes connosco próprios, precisamente porque nos abre o leque de conhecimentos, abre-nos as várias portas da realidade. E quanto mais cedo adquirirmos esta atitude perante a vida, melhor.

10 comentários:

Impensamental disse...

Fazer um passeio pelas palavras e informar o mais cedo possível não faz mal.
Passe um bom dia de sol.

papu disse...

Obrigada! :)

Hoje o sol não está muito famoso, temos uma nuvem de fumo a pairar em cima das nuvens :(

sm disse...

Acho que tens toda a razão, mesmo que se tente não falar das coisas à frente das crianças elas apreendem tudo e mais tarde ou mais cedo surge a pergunta de que se tem medo ou se tenta evitar.

Acho que a informação dada desde cedo torna este tipo de assunto: sexualidade, droga, entre outros... muito mais "naturais", ou seja, os miúdos habituam-se a ouvir falar sobre o assunto e de todas as suas variantes, deixando de ser um mistério, sobre a qual vão ter imensa vontade de experimentar, a informação transforma-as em coisas sobre as quais eles devem ter uma atitude natural e consciente dos perigos!!

Desculpa mas não sou muito boa a escrever e acabo por enrodilhar as ideias...

Este é um assunto que me preocupa bastante, a partir de que idades é suposto começar-se a falar sobre a droga? Sobre o tabaco já falo com a beca e ela já pergunta: - Mas se faz mal porque é que os tios fumam???

Boa pergunta!!!

:)
Sandra
PS Posso fazer um link para este texto?!?

papu disse...

Claro que podes! :)

E quanto ao tema, é preciso um certo cuidado: toxicodependência e sexualidade são coisas muito diferentes, só as comparei em relação ao tal medo que as pessoas sentem em abordar estes assuntos.

Em relação à sexualidade não precisamos de campanhas de prevenção, pois não é um comportamento de risco! É antes uma área importantíssima da nossa vida, que deve ser vivida na sua plenitude!

É claro q eu percebi o que disseste, não te interpretei mal nem acho q tenhas confundido as coisas. Só quis salientar este aspecto que acho importante porque às vezes as pessoas confundem um pouco as coisas...

beijinhos

Perola Granito disse...

Boas Festas!
:o)

sm disse...

Já está "linkado", neste artigo. Só não me respondeste, também não sei se sabes, a partir de que idade é suposto começar a falar do tema "droga"?

:)
Sandra

Maite disse...

Cá estou eu outra vez :)

É, de facto, imperioso informar os mais novos. Vivemos num mundo em que os pais pouco ou nada podem fazer para contrariar a exposição dos filhos às mais variadas "tendências" a não ser através de uma educação de prevenção. E é verdade que não há uma idade específica para o fazer, mas há formas específicas para esclarecer assuntos em todas as idades.

Resto de bom domingo

papu disse...

Sandra: já te respondi (ou antes, não respondi... :) no teu beco. Mais uma vez obrigada pelo link. :)

Olá pérolas :)) Boas festas também.

E Maite, um restinho de domingo muito bom também. Obrigada pela visita e pelo comentário. Também concordo contigo em que "não há idades específicas" mas "formas específicas" para os informar em todas as idades.

Eu acho q não há receitas. Cada pessoa é diferente e cada criança também. E cada pai e mãe, que conhece o seu filho, encontrará a maneira adequada.

Pim disse...

Realmente não entendo como em pleno século XXI, se continua com tanto medo (e falo de Portugal) de falar das coisas mais simples e mais comuns da nossa vida.
Depois, vejo amigas minhas, com 27-30 anos, com formação universitária (e com isto quero apenas dizer: com acesso a todo o tipo de informação), aceitarem sexo com um quase desconhecido sem usarem preservativo «Ai, e tal, tinha bom aspecto e conheço alguns amigos dele e blá blá blá»
Francamente, pá!!! Vamos lá é começar a falar abertamente das coisas, sem preconceitos, sem medos, sem tabus.

Olhem, eu, quando sentir que chegou a hora, não hesitarei com a minha pequenina.

Beijokaaaas grandes, papu!!! :)

papu disse...

É claro q a informação não basta. É essencial, mas não basta. De q serve a informação se não se tiver a maturidade emocional para optar com consciência?

A informação é só o primeiro passo. Mas é um 1º passo muito importante. E qt mais cedo ela for adquirida, melhor. É claro q tem de ser adequada à idade... enfim, blá blá blá, é tudo aquilo de q já falámos.

Beijinhos Pim, e para a tuas pinxejas :)