quinta-feira, dezembro 08, 2005
LEMBRAM-SE DA MIFFY?
Lembram-se dos livros da Miffy e dos outros desta colecção?
Fizeram as delícias da minha infância e continuam a dar sabor à dos meus filhos. A última novidade é um DVD que este mês foi vendido com a Pais & Filhos, que faz o Diogo delirar (e o David também, apesar do entusiasmo não ser o mesmo, como é natural).
De uma forma lúdica e divertida, os miúdos aprendem conceitos simples como cores, formas, números, igual e diferente... e aqui é que a porca torce o rabo, desculpem-me os produtores. Para mim, está completamente errada a maneira como introduzem o conceito de diferença.
A diferença é, para mim, um conceito fundamental para o crescimento e o amadurecimento psicológicos. Ele é o pilar da diversidade, da variedade, da individualidade. A diferenciação conduz-nos ao desenvolvimento, à autonomia, à saúde mental. Sem diferenciação, sem crescimento autónomo, não há saúde mental.
Ora no filme podemos ver dois meninos que encontram coisas iguais entre si - e as suas caras abrem-se num sorriso - ou coisas diferentes - e os cantos da boca viram-se para baixo. Porquê, pergunto eu? Porque é que se tem de associar a diferença a uma cara triste? Será que isto é educativo?
Depois temos um peixinho verde que corre todo o oceano em busca dos seus semelhantes. Encontra peixinhos amarelos, vermelhos, azuis, às cores, e finalmente encontra peixinhos verdes - iguais a si! Mas depois uns são maiores que ele, outros são mais pequenos - ainda não fica satisfeito. Lá continua a saga, e finalmente chega até aos peixinhos verdes iguais a ele! E que bom! Só assim se sente em casa - e é óptimo chegar a casa!
Mas que raio! Não havia outra maneira de abordar as diferenças? Porque é que só com peixinhos da mesma cor é que nos sentimos em casa? Porque é que com peixinhos de outras cores, ou de outros tamanhos, ficamos inquietos, desconfortáveis, por acharmos que "estes não são iguais a mim?" (Também são peixes, afinal, em tudo igual, menos na cor ou no tamanho!)
Eu não consigo ver aquilo sem ler nas entrelinhas: discriminação. A diferença incomoda. Provoca tristeza na cara dos meninos. Faz o peixinho sentir-se bem apenas entre peixinhos iguais a ele.
Não, decididamente não é esta a mensagem que devíamos passar às crianças.
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2 comentários:
Olá!! Lembro-me bem da Miffy e tens razão fizeram as minhas delicias e agora fazem as da minha filha :). Tb. tens razão em relação à abordagem do filme (não que tenha visto, pois só agora, pelo teu texto é que me apercebi que já saiu o DVD...). Essa é talvez a forma mais prática de ensinar, mas tb. não considero que seja a melhor.
Tive no outro dia um berbicacho para explicar o que era o "racisma" (=racismo) à beca, tentando não entrar no facilitismo, claro que ela não percebeu nada... Mas pelo menos tentei e acho que a ideia vai ficando!!
:)
Sandra
Eu nem acho q seja mais fácil assim... acho q é mesmo uma questão de mentalidades. A diferença não é encarada como uma coisa positiva, infelizmente.
Há que mudar! :)
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