sexta-feira, março 31, 2006

O MEU FILHO

está a fazer progressos espantosos na escola. Hoje foi o dia de falar com a professora, e lá fomos nós, mais uma vez. Estive a ver coisas escritas por ele, e algumas fichas de leitura e de matemática. Ele já domina perfeitamente o inglês. Já consegue utilizar adjectivos mais elaborados para descrever pessoas e objectos, estados de espírito, e outras coisas. Consegue ler e interpretar um texto, e responder a perguntas simples e de escolha múltipla sobre o que leu. Até a professora está surpreendida com ele, pois acha que o desempenho dele é melhor do que o de muitas crianças para quem o inglês é a primeira língua. E a matemática é sem dúvida a melhor área dele. Para terem uma ideia, eles atribuem um nível a cada criança, A, B ou C, conforme a criança tem um desempenho bom, médio ou abaixo do esperado. O David está no 2A em tudo, e na matemática ela acha que ele pode chegar ao nível 3.

Acho que podem imaginar o que estou a sentir. Depois de termos passado por todas as dificuldades de adaptação, que mesmo assim foram superadas com bastante facilidade, isto é de facto bastante compensador. É com um orgulho imenso que oiço estas palavras e que vejo os cadernos dele, que aprecio a sua letra cuidada, que me espanto que ele seja capaz de fazer algumas das actividades propostas. Fico a sorrir interiormente e a pensar com os meus botões que realmente a maioria das vezes ele anda (e ainda bem) bastantes passos à frente das nossas expectativas.

Ele também já começa a sentir-se muito mais à vontade, e a professora até fez notar que às vezes ele já não está tão quieto e calado como no início, e a voz dele ouve-se agora em alto e bom som. No recreio também está tudo a correr bem, e ele já tem novos amigos com quem brinca (o melhor amigo dele mudou de escola há pouco tempo, e ela estava um pouco preocupada com esta mudança, pois eles andavam sempre juntos).

Estou muito feliz por ele, pelo meu filho, e por ver como ele está a crescer e a fazer progressos espantosos. Sei que ele é muito inteligente, e que isso vai ajudá-lo no seu futuro. E, se por um lado a minha alegria me faz partilhar tudo isto convosco, não posso deixar de vos falar mais um pouco sobre este assunto. É que muita gente pensa que a inteligência é tudo, que para se ter sucesso, tanto na escola como mais tarde na vida, ela é uma variável fundamental e imprescindível. Aliás, logo na escola os miúdos começam a apelidar de "burros" aqueles que não aprendem, que não sabem nada, e logo associam isso ao facto de não serem muito inteligentes.

A inteligência não é tudo, nem é a variável mais importante no sucesso da aprendizagem, nem no "sucesso" mais tarde, na vida. A inteligência é apenas uma ferramenta ao nosso dispor, mais uma, entre tantas. E, se mal usada, até pode tornar-se num obstáculo ao tão esperado "sucesso". Sem uma auto-estima sólida e sem uma confiança de base, a inteligência pode tornar-se burra. E até pode ser um factor de risco, é verdade. As pessoas inteligentes pensam mais nas coisas, estão mais atentas ao que se passa à volta delas, têm uma sensibilidade mais apurada. E encontramos muitos distúrbios psicopatológicos em pessoas com elevado nível intelectual.

Desde sempre me apercebi que o meu filho era muito inteligente. E até muitas pessoas, entre familiares e amigos, me sugeriam que eu fizesse testes para saber se ele era sobredotado. Eu nunca dei importância a isso. Para quê? Ele tinha então 2, 3 anos, qual o interesse para ele? Se fosse sobredotado, quando entrasse para a escola, e dependendo da sua adaptação ao meio escolar, poder-se-ia então sentir necessidade de esclarecer esse facto. Mas se não se sentisse necessidade disso, sinceramente não vejo qual o interesse. A não ser, claro, insuflar o nosso ego.

Não creio que ele seja sobredotado, penso que é antes uma criança muito inteligente. E isso não me insufla o ego. O amor que sinto por ele não está dependente desse facto. Sei que o amaria de igual modo e que sempre seria o meu David se tivesse dificuldades, ou se tivesse nascido com alguma deficiência. Sempre detestei esses pais que precisam de mostrar as capacidades dos filhos como se estes fossem galos de feira. Aqueles pais que os incentivam sempre a ser os melhores sem olharem a meios, que lhes estendem sempre uma fasquia muito alta com a desculpa de que mais tarde, na vida, eles vão ter que vencer tantos obstáculos que o melhor é começar já. Esses pais não páram nem um segundo para ver que é a si mesmos que constantemente se desafiam, que no fundo são eles próprios que se sentem pequenos e que são eles que correm em busca do elogio e do reconhecimento dos outros, porque só assim se sentem vivos. E impelem as crianças para uma corrida desenfreada, uma corrida que não tem fim, e que as vai tornar competitivas, frustradas, obsessivas e infelizes. Tal como eles.

As crianças precisam de caminhar pelos próprios pés, sem serem empurradas pelos pais. Precisam de incentivos, mas precisam acima de tudo de respeito pelo seu próprio ritmo. Precisam de se sentir amadas pelo que são e não pelo que conseguem fazer. Precisam de se sentir bem com elas próprias e não de estar sempre a procurar ser o melhor. Ter de ser o melhor é o peso e a carga mais letal para a energia e a vitalidade de uma criança. E as expectativas desadequadas dos pais podem ser uma colher envenenada na motivação e construção do sentido da sua existência, e na felicidade da vida futura.

Porque ser feliz não é ser bem sucedido no emprego, nem ter uma grande inteligência, nem ter muito dinheiro. Ser feliz é, apenas e só, estar-se bem dentro da própria pele. E isso é o mais importante, na vida. Tudo o resto, vem depois.

4 comentários:

Anónimo disse...

Tenho os pelos dos braços todos em pé!!!!!

Aplaudo todas as tuas palavras e, essencialmente, a força com que as escreveste.

É por todas essas razões que a minha filha não vai para aquele colegio. Um colegio que tem à frente uma direcção que defende que "aqui as crianças são preparadas para o seu futuro, são preparadas para a competitividade, para o seu desempenho profissional"

Papu, ela tem 5 anos Papu, que raio de conversa é esta????

A Auto estima e a confiança levam ao equilibrio perfeito, e garanto-te que conheço crianças bem mais equilibradas que muitos adultos que por aí andam.

Essa tua força que transmites quando escreves eleva-me aos "pincaros da lua".

GRANDE MÃE!
GRANDE MULHER!

Ora toma.

papu disse...

Tens toda a razão amiga.

Para os 5 anos, uma conversa dessas é sinónimo de burrice. Com todas as letras!

Um beijo enorme
e olha, nem sei que dizer...
obrigada!
:)))))))))))))))

Tilangtang disse...

papu,
estou..."apaixonada"

quero ser tua filha:)

Anónimo disse...

Outra grande lição de vida Papu!

Julgo que pensas como a minha mulher me ensinou a pensar...

Infelizmente a nossa Sociedade desgosta-me, entristece-me, ao desconsiderar os idosos, na forma como age quotidianamente, no modo como trata os filhos...