Eu, por acaso, não vejo problema no facto de a mãe e o pai poderem não estar de acordo em relação a alguns pontos da educação dos filhos. Aliás, acho que a autoridade parental exercida exclusivamente em regime de partido único pode ser prejudicial ao desenvolvimento da criança. Desde que estabelece uma relação com o pai e a mãe em separado que a criança se apercebe das suas diferenças. O pai e a mãe são pessoas diferentes, porque raio é que haveriam de estar sempre de acordo em relação a um assunto tão abrangente como este?
Atenção que é óbvio que tem de haver uma coerência de base, principalmente em áreas fundamentais como a segurança e possíveis riscos de vida. Por exemplo, em relação ao uso de cadeiras auto, os pais têm de estar de acordo (e têm de agir em consonância!). Em relação à atitude a ter se o menino foge para a estrada a mesma coisa, etc, etc...
Já referi várias vezes que não acredito no amor sem o reverso da medalha, neste caso, a zanga. É natural zangarmo-nos com os nossos filhos. Mas já não é natural zangarem-se os dois pais, ao mesmo tempo, com a criança. Aliás, a zanga é uma explosão espontânea, e muitas vezes está relacionada não apenas com o acto da criança, mas com a disposição e o humor do adulto no momento. E por isso mesmo é muito pouco provável que ambos os pais se zanguem ao mesmo tempo com igual intensidade!
Desde que no fundamental e básico os pais estejam de acordo, não vejo problema algum em não o estarem em muitas e diversas áreas. Aliás, esta divergência é importante para a criança: abre-lhe portas para outras opiniões, outros pontos de vista, mostra-lhe que as coisas não têm sempre e só uma única leitura, numa palavra, abre-lhe as portas para a realidade do mundo relacional.
E sobre isto lembro sempre as palavras (sábias) de um professor meu da faculdade: quando um diz mata, e o outro esfola, a criança fica sem opções, não tem para onde se virar, sente-se encurralada, sem saída e sem alternativas.
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