sábado, fevereiro 24, 2007

NAVEGAÇÕES


E, como um velho marinheiro, volto à velha solidão dos mares.

Não é uma solidão incómoda, até porque as gaivotas me acompanham no seu voo, assim como as estrelas no céu de todas as noites e às vezes, ao longe, vejo brilhar as luzes de faróis distantes e sei que ali, naquela luz, estão as vozes e as casas e as ruas e os jardins e as árvores de todas as cidades do mundo.

Aliás, nunca gostei muito da vida nas cidades, apesar de sempre lá ter vivido. Sempre preferi a calma do campo, a luz do sol a derramar-se lenta nos minutos e os pingos da chuva a encharcarem as horas vagarosas. O ronronar do gato no colo e aquela sensação de calor nas pernas, como se a respiração lenta e profunda fosse também ela o crepitar da lenha nas mãos sensuais do fogo.

Gosto da minha casa, do meu canto, do meu espaço. Gosto do meu silêncio. Gosto da minha paz. De me sentar a escrever sem horas no tempo. Mas a parte engraçada é que nunca é assim que acontece, isto é mais uma ilusão (desejo). Geralmente é no meio da confusão, do barulho, de olhares desesperados para o relógio, ai que tenho de ir fazer o almoço, ai que a máquina está cheia de roupa e nunca mais me lembrei.

Não gosto de não ter tempo. De viver com os minutos sempre a menos. De não sair com os meus filhos as vezes que quero. Não gosto de não lhes poder proporcionar mais tempo com os avós, com os primos, com os amigos. É nessa parte que a solidão é minha inimiga (e só nessa): o sermos uma ilha. Ainda. Porque acredito que aos poucos a ilha vá formando pontes e às tantas até se esqueça de que é uma ilha.

8 comentários:

tilena disse...

Tu viste como já fui capaz de mandar um comentário?!...
O pior é que não os deves receber porque não aparecem assinalados.
Se chegarem aí, diz pf
Bjs lena

tilena disse...

E continua a ser lindo tudo o que escreves!
Bjs lena

papu disse...

Aparecem, aparecem ;)

Quando quiseres vê-los assinalados é só carregar no botão "actualizar" (refresh, em inglês)

papu disse...

Olha olha, estás aí :)

Alex disse...

Também vim até ti, agorinha mesmo.
Está tão bonito o que escreveste sobre o teu espaço, o teu silêncio, a tua paz. E no meio de um turbilhão eu acredito que os encontras - a esses momentos em que te entregas de corpo e alma e nos dás um pouco de ti.

Estou a passar a ferro :) Sentada naquele sofá onde também te sentaste, em cima da tábua tenho o ferro, alguma roupa, e ... e ....

o portátil ;)


Estou a ouvir musica, a escrever-te entre borrifos de vapor.
Como bem dizes, são tão nossos, estes momentos.
Um beijo Papu, dorme bem.

papu disse...

:)
eu nunca me lembraria de passar a ferro sentada no sofá e ao computador... ;)

dorme bem

Edelweiss disse...

Compreendo bem o que sentes! Bjs.

Anónimo disse...

és uma ilha bonita cheia de pontes, Papu. :)