quarta-feira, março 28, 2007

De mãe para mãe

E agora vou falar-vos de mãe para mãe, de mulher para mulher, de pessoa para pessoa. ;-)

Há vários tipos de cansaço. O cansaço das noites mal dormidas, o cansaço do fim de um dia de trabalho, o cansaço depois de uma corrida, o cansaço de não fazer nada, o cansaço do tédio, aborrecimento, esquecimento...

Sofrimento...

Enfim, há pano para mangas.

Mas onde eu queria chegar, é que os diferentes tipos de cansaço não cansam todos da mesma maneira. Alguns nem cansam de todo. Há até os que nos dão prazer! Sim, é verdade. Se estamos cansados porque tivémos um dia cheio, estamos cansados mas estamos felizes. Se estamos cansados porque passámos o dia ocupados com algums coisa interessante, estamos cansados mas realizados. Se passamos o dia a fazer algo estimulante, chegamos ao fim cheios de energia e vitalidade. Apesar do cansaço.

Ao contrário, se passamos o dia sempre a fazer a mesma coisa, coisa essa que não nos dá prazer, uma coisa chata e monótona, até podemos não ter saído de casa - mas ficamos estoirados.

E depois há o sentimento de se estar a ser útil, de se estar a progredir, de se estar a fazer alguma coisa que nos traga alguma mais valia. Infelizmente, vivemos numa sociedade completamente capitalista, e a única mais-valia que nos interessa é o dinheiro (bem, pelo menos é para o ganhar que toda a gente trabalha). Tanto assim é que só consideramos trabalho a actividade que seja remunerada. Se estamos a fazer alguma coisa que não o seja, rapidamente esquecemos que estamos a trabalhar - e achamos que não estamos a fazer nada. Eu sei do que falo. Já passei muitos bons anos a trabalhar sem ganhar um tostão com isso. Aliás, o dinheiro que ganhei até hoje com o meu trabalho nem dava para encher um décimo de um colchão.

Mas a realidade é que somos dependentes do vil metal, e quanto a isso batatas. Portanto, é importante que o ganhemos - é importante para nós enquanto pessoas, qe sintamos que temos capacidade para o ganhar, e assim sustentar a nossa família. É importante para o nosso equilíbrio e bem estar emocional. E aliado a isso, claro, o sentimento de se fazer alguma coisa de útil. E se ainda tirarmos prazer do que fazemos, melhor ainda. Aliás, esta é uma parte fundamental. Fazer o que se gosta não cansa. Fazer algo que nos faça sentir bem connosco próprios não cansa.

Mas para que estou com toda esta conversa? É que hoje estou cansadíssima, mas há muito tempo que não me sentia assim. Dormi umas cinco horas se tanto (fiquei aqui a queimar as pestanas até à uma e tal da manhã!) mas estava capaz de outra. E de onde me vem esta energia? Precisamente, da senação de estar a fazer alguma coisa de útil. Do sentimento de estar a progredir, a evoluir. Um passo de cada vez, mas passos importantíssimos.

Passei os últimos dois anos em casa, a tomar conta do meu filho mais novo, a fazer almoços e jantares, a limpar a casa, etc (aquela infinidade de tarefas e obrigações que vocês tão bem conhecem) e nunca me senti como hoje. Ao contrário, o cansaço acumulava-se-me nos ombros até à exaustão. Às vezes até ao desespero. Minhas queridas, ninguém consegue ser só dona de casa, ou só mãe (e admiro aquelas mulheres que o são, apesar de saber que não podem ser só isso, a bem da sua sanidade mental). Por mais que amemos os nossos filhos. Por mais que seja a melhor coisa do mundo acompanhá-los diariamente no seu crescimento (acreditem que tenho os anos que passei em casa com eles como os melhores tempos da minha vida). São momentos de ouro, mas são desgastantes, são deprimentes, são insuportáveis, se não pudermos respirar outros ares ao mesmo tempo (e há tempo para tudo). Somos pessoas completas, e precisamos de ter a nossa vida, a nossa vida sem eles, o nosso tempo, as nossas coisas, só nossas e de mais ninguém, o nosso corpo, o nosso prazer, o nosso trabalho. Só assim poderemos ser felizes. Precisamos de sair para a rua, ver outras pessoas, conversar sobre outras coisas, ocuparmo-nos com o nosso trabalho, esquecermo-nos deles (ainda que só durante segundos). Precisamos, sim. Só assim podemos ser mães de verdade, pessoas completas, felizes.

Cansadas, mas felizes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Assino por baixo! Fiquei sete meses em casa e já não conseguia ter uma conversa decente. Só lia o Brazelton e revistas de bebés, os meus únicos assuntos eram bebés, fraldas, mamas, etc. Estava a embrutecer completamente. Não era bom para mim nem para a criança. Tudo melhorou quando comecei a trabalhar (com redução de horário) e ele foi para a creche. Ele reagiu mesmo muito bem, eu senti-me outra vez uma pessoa completa, e o tempo que passávamos (passamos) juntos passou a ser muito mais agradável e compensador para os dois. Compreendo as mulheres que querem ser mães a tempo inteiro e admiro as que o conseguem com êxito, mas nunca seria feliz assim. Para além disso, a ideia de mulher que eu quero passar ao meu filho não é o de uma pessoa que vive em função dele e que quase se esgota nesse papel, não tendo outros contributos válidos a dar à sociedade ou à família.

Alex disse...

E eu sei que tu estás a CRESCER nesse sentido, e vais conseguir. Tens toda a razão, embora respeite quem fique em casa anos e anos sem mais metas além, precisamos sim, de sair, ver gente, aprender coisas novas, aperfeiçoar, conhecer outros horizontes, crescer, ter os nossos sonhos, lutar por eles, ficar felizes quando conseguimos e partilhar essa felicidade com eles.

É tão bom ....

Adorei o que escreveste.