terça-feira, maio 01, 2007

Positive parenting course

Conhecia-as a todas de vista, com algumas já trocara mais que simples sorrisos e o habitual "haya", que é a forma mais comum de eles se cumprimentarem. Algumas conversas no parque enquanto os nossos filhos brincavam, meia dúzia de palavras, risadas, olhares. Uma tem o filho na nursery com o Diogo e uma filha no year 3 com o David. Outra é mãe de um dos amigos do David. A uma delas, uma vez, bati-lhe no carro, estava a estacionar a minha "banheira", e, como é habitual, calculei mal as distâncias e pumba!, mas foi só um toquezinho. Geralmente fico sempre a quilómetros do carro de trás, já por causa disso, mas naquele dia não sei o que me deu. Ela ficou fula e saltou do carro, mas não havia estragos à vista, e tudo acabou em bem, comigo a gaguejar desculpas e tentativas de explicar a situação em inglês, uma desgraça. A partir daí sempre que me cruzava com ela sentia uma certa apreensão, que não se desfez hoje, logo de início. Foi preciso o ponteiro do relógio dar quase duas voltas para que, de súbito, nove mulheres reunidas numa sala, que de início apenas tinham em comum o facto de todas serem mães de crianças daquela escola, se sentissem irmãs umas das outras e se encontrassem de repente naquele lugar onde é possível quebrar as mágoas e soltar amarras à voz e às lágrimas, ao riso e à mais pura emoção, aquele lugar onde nos olhamos umas às outras como num jogo de espelhos, e vemos no sorriso e na voz embargada a própria angústia ou o próprio orgulho ferido, a mágoa ou a raiva, a dúvida ou o medo, aquele lugar onde vai dar a estrada que se percorre lentamente quando comungamos e partilhamos atalhos de pedras cortantes e recantos sombrios que não ousamos palmilhar em público, porque o socialmente correcto nos está entranhado até à medula, e atiramos para fora desgostos e facas na voz que só em privado nos permitimos, quando enterramos a cabeça na almofada e choramos e vamos ao fundo porque estamos sós no mundo e somos mães, e os gritos deles, dos nossos filhos, furam-nos os ouvidos atrás da porta e chamam por nós, porque antes de sermos pessoas somos mães mães mães, e somos só nós, e mais ninguém, e todas, todas as mães e todas as mulheres do mundo conhecem este lugar, o do desespero, o do cansaço, o da exaustão, o das noites sem dormir, o da culpa, o da culpa, o da culpa. Todas as mulheres que são mães conhecem este fardo. E afinal ao nosso lado estão pessoas iguais a nós e que sentem o mesmo. Então podemos dar as mãos e partilhar lágrimas como se fossem bocados de pão que nos alimentassem a solidão. Foi bonito. Não tenho palavras. Aliás, fiquei sem palavras, porque o desejo de entender tudo e a frustração de não conseguir exprimir-me tomaram um bocado conta de mim. Fiquei cheia. Cheia de sensações. Cheia dos olhos alagados de duas delas. Cheia dos olhares de todas. E cheia de coisas que gostaria de ter dito e não disse. Talvez, talvez aconteça antes do que eu espero. A comunicação. A verdadeira. Aquela por que tanto anseio.

1 comentário:

Alex disse...

Momentos puros e partilhados assim dessa forma como descreves ... dá vontade Papu, dá vontade de ficar de mão dada, emocionada quase porque te senti tanto neste texto.
Um beijo imenso, do tamanho desses teus olhos lindos!