domingo, setembro 09, 2007

Mas para quê tantos livros?

Treze? Desculpa, mas fiquei abismada. Eu explico, ou melhor, acho que bom mesmo era fazer um desenho, ou escarrapachar aqui uma fotografia com o material escolar que o meu filho transporta dentro da mala. E que se resume a um livrinho, o homework book, onde eles fazem os trabalhos de casa. Depois têm outro livrinho, o reading diary, onde registam os livros que andam a ler e fazem actividades acerca da leitura. Mas não penses que são livros especiais, nada disso! São daqueles cadernos de mercearia, alguns deles handmade. Todas as semanas trazem um livro para casa, que podem ir lendo, e quando acabam devolvem. Depois há aquelas papeladas que de vez em quando nos mandam para casa com informações, e que eu às vezes me esqueço de por no lixo, e que ficam para lá, até ao dia em que lhe digo para fazer uma limpeza à mochila. E é só. É verdade, não estou a gozar. Ele está no 4º ano, e desde que entrou para a escola ainda não comprei um único livro escolar. Aliás, o que é isso?, era a pergunta que qualquer criatura que nunca frequentou outro sistema de ensino faria. Na escola há livros em todas as salas, dezenas, centenas. Há uma biblioteca com as estantes cheias deles. Os exercícios que fazem na sala de aula são-lhes dados em fotocópias, e eles fazem-nos nos cadernos - todos os alunos têm vários cadernos, um para cada temática (matemática, língua, etc). Cadernos mais uma vez com capas lisas, de papelão, e com folhas pautadas. Todo o material escolar é fornecido pela escola, desde lápis a canetas, borrachas, réguas, pincéis, tintas, tesouras, folhas, tudo o que possas imaginar. E a quantidade e a diversidade de material, para as várias disciplinas, é indiscritível. Têm jogos, têm formas geométricas para os ajudar nas contas, moedas magnéticas, eu sei lá! Têm computador em todas as salas. O ensino é super dinâmico e o material bastante rico, mas ao mesmo tempo os recursos são explorados na sua vertente mais simples. Não se desperdiça nada, é o que me parece. Talvez seja por isso que as prateleiras estejam sempre tão "desarrumadas", numa desordem onde se adivinha uma actividade permanente, viva, activa. Há caixotes cheios de livros no chão, papéis espalhados, caixotes com brinquedos, gavetas cheias de materiais tão diversos, desde quadros magnéticos, canetas, apagadores, formas geométricas magnéticas, formas geométricas para ajudar na contagem dos números, e livros, imensos livros, incontáveis, a encher estantes e expositores. E o custo para os pais é zero. Não há um único livro escolar comprado pelos pais. E não, não são precisos para nada. Rigorosamente nada.

Já pensaste na quantidade de dinheiro que gastaste, que todos os milhares de pais gastam anualmente, e que vão parar aos bolsos de quem? Já pensaste que, para que os filhos usufruam de um direito fundamental, o direito à educação, andam os pais a arrotar com milhões de euros (todos juntos), e afinal para onde vai esse dinheiro? Com esse dinheiro enchiam-se as escolas de livros e de materiais didácticos, como aqui acontece. Mas aqui, os pais não gastam um tostão.

Lembro-me de ler, já de há vários anos para cá, em algumas revistas, médicos e especialistas preocupados com o peso excessivo que muitas crianças transportam dentro das mochilas, e que lhes deforma as costas num futuro breve. Crianças que diariamente carregam quilos (?) de livros às costas. Não faz sentido. Eu própria me lembro da carrada de livros que todos os anos tinha de comprar para a escola. É uma coisa a que estamos tão habituados que nem questionamos. Não faz sentido. Nenhum. É perfeitamente possível ter um ensino de óptima qualidade sem um único livro escolar. Ou melhor, com todos os livros escolares, aliás como o nome indica, no seu lugar certo: a escola.

4 comentários:

LP disse...

Não queres mandar este post para o Ministério da Educação não?

Kate disse...

O que descreves dá que pensar...

Pedro Ruivo disse...

Acho que podias (ou podíamos) mandar isto para vários sítios: jornais, autores de blogs, Ministério da Educação...
O que achas Papu?

Beijinhos,
PedroR

Kate disse...

não é mal pensado, não senhor...