do princípio.
Domingo à noite.
Depois da excitação de fazer a mala, da hora de deitar, foi difícil adormecer.
Já há dias que andava a falar, cheio de entusiasmo, da viagem.
A viagem consistiu de uma semana passada no campo, numa casa criada especialmente para receber grupos de escolas. Têm actividades diárias, relacionadas com aquilo que andam a aprender neste momento nas aulas. O principal tema tem a ver com a Geografia (as diferenças entre o campo e a cidade). Toda a turma foi, excluindo uma meia dúzia de crianças, cujos pais não deram autorização (não me perguntem porquê).
Segunda-feira de manhã não foi preciso repetir o "querido, está na hora..." ao ouvido. Deu um pulo da cama, como se estivesse acordadíssimo. Levantou-se por volta das 7.15 para ter tempo para tomar banho! Não foi preciso gritar-lhe para se despachar, como é hábito, e até me ajudou a despachar o Diogo.
A bagagem estava pesada, mas ele insistiu em arrastar tudo lá para fora.
Depois foi a hora do adeus, junto ao autocarro. Estava animadíssimo na conversa com o amigo. Olhares, sorrisos, beijos atirados nas mãos. Na hora de ir embora nem olhou para trás. O Diogo ficou a acenar-lhe também do passeio, estava "munto nevôjo" como me sussurrou baixinho quando o quis levar para a sala. Resolvi levá-lo comigo para fazer adeus ao mano.
Os dias passaram vagarosos, calmos e silenciosos, coisa que não é habitual. O Diogo entreteve-se como pôde, mas não sabe viver sem o irmão. Todos os dias perguntava quantos dias faltavam. À noite chorava, lágrimas sentidas. "Eu não tenho o David!" Estava inconsolável. Andava mais sensível, mais vulnerável, qualquer coisa o fazia chorar. Só quando lhe lembrava da surpresa que iríamos preparar para o irmão é que se acalmava.
O mais estranho foi não lhe ouvir a voz. Eles tinham pedido para não haver telefonemas, pois já têm experiências anteriores em que as crianças estavam bem até ouvirem uma voz de casa. Mas isto as mães precisam de ouvir as suas crias para saberem que elas estão bem. E alguma inquietação não me largava. Sabia que ele estava seguro, tenho absoluta confiança nas pessoas que estavam com ele, essas coisas todas, mas... e se tem pesadelos? E se cai do beliche? E se escorrega na banheira e bate com a cabeça? E se acorda com falta de ar e ninguém o ouve? E se se se se... ?
A carta dele chegou mesmo em boa altura. E parecia mesmo escrita para mim! Como se ele me adivinhasse o que me vai na alma!
Hoje, quando o autocarro chegou e vi a carinha dele, percebi que, apesar de ter sido apenas uma semana, foi como se tivessem passado muitos meses. Aprendeu muitas coisas. Viveu outras tantas. Estava com um ar cansado (estavam todos! Pareciam um bando de ciganos a chegar de um acampamento! Não, não estavam muito sujos, era mais o ar, não sei se estão a ver...) O Diogo está radiante. Os olhos brilham-lhe outra vez. Chegámos e havia balões nas paredes e um "Welcome Back" a letras grandes e coloridas, com corações e flores, a ocupar uma parede toda. Havia também um bolo de chocolate e panquecas, e algumas prendinhas. Eles comeram, e agora estão para ali a jogar. O David então não pára, ainda só consegui arrancar-lhe meia dúzia de palavras sobre a viagem. Trazia duas calças cheias de lama no saco da roupa suja, e não mudou a camisola interior nem a outra uma única vez. Está com a cara rosada, acho que foi do sol.
Enfim, foi uma semana e tanto.
3 comentários:
Imagino o que ele delirou com a experiência!
Ai mas... como é que aguentaste?! ;)
Eu não sei se o meu coração aguentava uma coisa dessas!
:)))
aqui há uns anos também achava que não aguentaria... mas quando eles crescem estas coisas tornam-se inevitáveis. a sensação é mais ou menos aquela da primeira saída deles na escolinha, lembram-se? quando ainda eram quase bebés... (a primeira do David foi aos 2 anos) multiplicada para aí por 100!
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