quinta-feira, março 27, 2008

Não, não estou a dormir (ainda sobre a escola)

Se há coisa de que não gosto, é que quem não me conhece me acuse daquilo que não sou.
Eu, por acaso, até acho que a blogosfera podia ser um espaço de debate interessante. Podia. Se quem por aqui anda estivesse interessado nisso. Mas não está. Tenho um blogue que vive precisamente disso, da discussão e do debate, e não vive (está morto).

Gosto de uma boa discussão, sim, quando os argumentos valem a pena. Porque também acho que há coisas que não vale a pena discutir. E, quando assim é, remeto-me ao silêncio.

Mas não, não tenho o hábito de criticar por criticar. E, sobre este assunto, até tenho bastantes ideias. Não são pretensas soluções, são apenas ideias. Primeira: acho que o que se passa neste momento com a escola, reflecte a nossa (da sociedade em geral) dificuldade de lidar com a adolescência. E não pensem que estas coisas só acontecem em Portugal. Aqui, no Reino Unido, acontece o mesmo ou pior, nas escolas secundárias.

Houve uma época em que também não sabíamos lidar com a infância. Tratavam-se as crianças como adultos em miniatura. A autoridade nas escolas, desde tenra idade, era exercida através do medo, com o uso dos castigos corporais. Nas últimas décadas, pode dizer-se que a infância ganhou um novo estatuto social. Deve-se isso a um progresso espectacular no conhecimento das ciências relacionadas com a área, nomeadamente a parte psicológica e emocional. Hoje em dia, a maioria das instituições para a infância está mais ou menos adaptada às verdadeiras necessidades das crianças.

Mas a adolescência continua a ser aquele bicho de sete cabeças. Temos medo dos nossos adolescentes: das hormonas aos saltos, das flutuações do humor, da contestação à autoridade. E, arrisco a dizer, temos medo porque já esquecemos tudo o que passámos nessa altura.

Será que não entendemos que a resposta está aí? Porque é que tão facilmente percebemos que o jardim de infância tem de estar adaptado às necessidades das crianças, e não o extrapolamos para a escola? E que necessidades são essas? São sempre as mesmas, afinal, e têm a ver sempre com a mesma coisa: afectividade. É isso que a escola precisa de ser: um espaço afectivo. Um espaço que os alunos sintam como seu, e onde gostem de estar. Será que é assim tão difícil?

A escola não pode ser apenas o sítio onde se vai aprender umas coisas. Aliás, o papel principal da escola não é a transmissão de conhecimentos. Relembro as palavras de João dos Santos: O mais importante que se passa numa escola não é o que acontece dentro das salas de aula, mas nos corredores e no recreio. A escola é, antes de tudo, formadora de atitudes e um espaço de socialização.

Como é que se consegue que os alunos gostem de lá estar? Com regras, com atitudes de respeito mútuo, com exemplos, com modelos, com participação activa dos alunos dentro da escola. Como é que podem sentir a escola como um espaço que lhes pertence? Se virem trabalhos seus nas paredes, se a biblioteca estiver cheia de livros que eles próprios ajudaram a organizar, se organizarem eventos desportivos e culturais, se se se... Sim, claro, tem de haver punições para os maus comportamentos. Essas regras têm de ser máximas e respeitadas. O quê? Sair da aula não basta, penso eu. Que tal criar um espaço para onde os alunos que se portam mal têm de ir... uma sala, ou duas, ou três, onde tenham obrigatoriamente de fazer qualquer coisa. Que tal pô-los a limpar as casas-de-banho? Ou o bar? Ou outro sítio qualquer? E se é preciso puni-los, há que não esquecer o reverso da medalha: premiá-los pelos bons comportamentos. Que tal responsabilizá-los mais? Dar-lhes tarefas de liderança, a alguns? Nomear dois ou três, por turma, para lidarem precisamente com estes problemas de violência? Dar-lhes voz nas tomadas de decisão? Evidententemente, não defendo que sejam eles a fazer as regras, isso seria um disparate. Mas a opinião deles também devia contar. Aliás, acho que os estudantes deviam ser ouvidos neste debate. Para muitas questões, eles apontam soluções. É preciso é saber ouvi-los. E digo mais: a solução para o problema da violência nas escolas passa obrigatoriamente por eles. É impossível resolver este problema sem a sua participação, quer na teoria (ouvindo a sua opinião) quer na prática (através da sua participação em medidas concretas).

De uma vez por todas: nós só aprendemos no contexto de uma relação afectiva. Se isto é verdade para o nosso crescimento, claro que também é verdade para uma parte tão importante da nossa vida como é a aprendizagem escolar! A figura do professor é uma figura importantíssima para o nosso crescimento. Toda a gente sabe disso. As atitudes que se aprendem na escola, são vitais para a nossa formação enquanto pessoas. Uma coisa que é preciso acabar, de uma vez, é com a humilhação que muitos alunos sofrem dentro das salas de aula. Bom, isto era assim no meu tempo, desconheço se ainda é, mas desconfio que não deve ter mudado muito. Lembro-me de uma professora de português do meu 2º ano do ciclo que nos apelidava todos de burros (com a excepção de uma única aluna). Não me lembro exactamente das palavras que ela usava, mas eram insultuosas. Todos os maus alunos as conhecem. Eu, por exemplo, nunca fui má aluna, mas não era boa a ginástica e era constantemente humilhada pela professora. Pelos colegas também, claro; apenas lhe seguiam o exemplo. Ora, isto é inadmissível.

Turmas mais pequenas, sim. E professores que tenham formação espécifica para dar aulas, já agora. Porque é que para exercermos qualquer profissão temos de ter uma formação nessa área, e para dar aulas podemos prescindir dela? E porque é que a esmagadora maioria das aulas utiliza o método expositivo como principal método pedagógico? Quando fiz a minha formação pedagógica de formadores, aprendi muitos outros métodos (já nem me lembro de todos), e o expositivo era apenas um no meio de muitos outros muito mais dinâmicos e interessantes.

É evidente que, para a escola ser sentida como sua por parte dos alunos, também o tem de ser por parte dos docentes. É inadmissível os professores andarem a saltar de escola de ano para ano. Quando entra para uma determinada escola, um professor tem de passar a pertencer ao quadro. E ponto final.

Turmas mais pequenas, mais funcionários, mais professores, mais formação. Mais dinheiro, pois é. E então? A educação não devia ser a prioridade máxima de um país? Não se iludam: Portugal não tem falta de dinheiro. O dinheiro está é mal distribuído. Mas se querem aumentar o orçamento, abram as portas à imigração. Facilitem a vida aos imigrantes, legalizem-nos a todos de uma vez por todas. Acabem com o trabalho precário e obriguem todas as entidades patronais a pagar os devidos impostos. Fiscalizem. Não criaram a ASAE? Criem outra ASAE apenas só para a mão-de-obra precária.

Chega? Ou não?

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