segunda-feira, março 24, 2008

Olhem, gostei desta

Rui Tavares, Newsletter Opinião, 24 de Março de 2008 do Público:

"Tenho uma ideia. Pegamos naquela aluna indisciplinada da escola do Porto que brigou com a professora por causa de um telemóvel, fazemos um círculo em torno dela com todos os comentadores, políticos, espectadores e treinadores de bancada, e apedrejamo-la. Assim uma coisa de Antigo Testamento, mas com um toque moderno: em vez de pedras, usamos os nossos telemóveis. Depois, filmamos tudo e pomos no Youtube. Que tal vos parece? Um pouco exagerado, talvez?

Se não resultar, fazemos o mesmo à professora, depois aos pais e finalmente à ministra. Estou apenas a tentar acompanhar a tendência do debate. Como sabemos, este caso de indisciplina é um sinal do fim dos tempos. Mas se arranjarmos uns bodes expiatórios, talvez a coisa se arranje.

Antigamente, claro que não era assim. Pelo menos antes do século IV d.C., quando São Cassiano de Ímola, mártir dos professores, foi apunhalado pelos seus próprios alunos com os estiletes de metal que eram usados para tirar notas (em tabuletas de madeira cobertas com uma película de cera, porque o pergaminho era caro e o papiro raro).

Dos estiletes de metal aos telemóveis, os novos media têm sido inimigos dos professores, pelo menos até estes aprenderem a usá-los a seu favor. E porquê? Porque o professor precisa da atenção dos alunos, una e indivisa, na sala de aula. Essa é a melhor maneira de dar aulas e mesmo a única: ainda não inventaram outra. O pesadelo de um professor é "perder" uma turma, aluno a aluno, fila a fila, quando todos se distraem e não há maneira de estancar aquela vaga. Hoje há mais motivos de distracção, e amanhã haverá mais ainda, valha-nos São Cassiano.

A mente autoritária, essa, só precisa de uma coisa e sempre a mesma: gritar por mais autoridade, mesmo que isto não lhe garanta mais autoridade. Gritar por mais autoridade apaga todas as contradições, sossega todas as inseguranças.

O problema é o seguinte: a autoridade é, em si, uma coisa contraditória. Há duas autoridades: a do medo (medo da violência, nomeadamente) e a do reconhecimento. Ambas estão mais difíceis, por boas razões. A autoridade pelo medo, "responder bofetada a bofetada", como sugere Vasco Pulido Valente, é precisamente o que falhou no episódio do Porto: a professora tentou puxar mais do que a aluna, que tinha o dobro do seu tamanho. O programa pulido-valentiano não aguenta hoje dois minutos numa sala de aula, e no passado só funcionava integrado numa cadeia com vários elos: tinha-se medo do professor, do pai, do marido, da tropa e da PIDE.

A autoridade pelo reconhecimento está também em maus lençóis. O mundo exige-nos atenção de demasiados lados e o professor está no lado mais fraco. Mas isto não é o fim dos tempos. É apenas o princípio de tempos novos.

Esses tempos novos exigem turmas menores, não ultrapassando 20 alunos. Cacifos para deixar os telemóveis à entrada. Mais professores e funcionários. Intercomunicadores nas salas. E para os alunos indisciplinados? Puni-los com a única coisa que hoje em dia mete medo: o aborrecimento. Proponho aborrecê-los em turmas ainda menores, orientadas por dois professores, até que prestar atenção seja a única coisa interessante a fazer naquela sala.

Voltar à escola de elite não é opção, quando precisamos de toda a gente qualificada que pudermos formar. A opção que resta é dar às massas uma escola de elite. Custa mais dinheiro. Sim, ainda mais dinheiro, e dos seus impostos. Não foi você que pediu medidas impopulares? Historiador"

6 comentários:

Anónimo disse...

A violência existe nas escolas porque falta a autoridade e o castigo que seria devido por mau comportamento e delinquência.
Não se pode tocar nos meninos “nem com um dedo” e na falta de outros castigos eficazes, principalmente nas idades mais jovens, quando se começa a moldar o seu comportamento dentro da sala de aula e fora dela, resta a impunidade, que serve de incentivo para que cresçam os comportamentos anormais e a violência nas escolas e fora delas.
Que castigos utilizar então?
- Aplicar uma multa? Quem paga? Os alunos? Os pais? Muitos não têm meios com que pagar e ficarão impunes!
- Obrigar os alunos a ficar de castigo numa sala de estudo? Quando aqueles se aperceberem que nada lhes acontece se recusarem é isso mesmo que vão fazer: recusar o castigo.
- Expulsar da aula ou da escola? Não serve de nada, apenas se transfere para o exterior da sala de aula o problema. Esses jovens irão dar azo à sua liberdade doentia noutro lugar.
Os castigos físicos são condenáveis, mas, por vezes, são os únicos que têm algum efeito e as autoridades policiais sabem-no bem. Senão para que servem aqueles bastões compridos que os polícias usam nalgumas situações? e as outras armas que trazem?
As crianças não são assim tão diferentes dos adultos e até há um abuso de linguagem ao se apelidar de "crianças" todos os jovens dos zero aos dezasseis anos (logo dezoito), como que se a inteligência e a capacidade de distinguir o bem do mal chegasse na noite em que completam aquela idade. O Desenvolvimento humano nem é todo igual: há jovens com dez anos mais desenvolvidos, experientes e astutos do que outros com catorze, quinze e mais... Há até pessoas já adultas que nunca atingiram um nível de desenvolvimento aceitável (são obviamente deficientes mentais).
A maioria das crianças e jovens não são delinquentes e pode ser corrigida de qualquer desvio através de uma simples conversa, mas basta um "rebelde" para boicotar uma aula e para arrastar consigo outros mais pacatos que não levantariam qualquer problema.
Os colegas mais humildes são as primeiras vítimas e a escola não tem hoje maneira de as proteger a não ser que as isolassem dos mais violentos. Mas não será injusto permear os delinquentes com a liberdade enquanto se fecham os restantes alunos ainda que para a sua protecção? Mesmo assim ficam expostos quando entram e saem da escola. Isto lembra os “condomínios fechados” onde quem pode se protege da violência exterior sem ficar completamente imune porque tem que entrar e sair desses locais.
Algo deve mudar no ensino e na forma de castigar os desvios dos jovens, senão estamos, sem o saber, a criar pequenos “monstros” que nunca se habituarão a cumprir regras sociais, que serão uns inúteis e que viverão sempre à custa do trabalho alheio, porque é mais fácil.
Um dia as ideias que agora dominam, de não aplicar quaisquer castigos físicos, em quaisquer circunstâncias, terão que mudar: o que é hoje um conceito aceite e indiscutível será um dia posto em causa pelos futuros pedagogos. Houve no passado uma inversão nos castigos admissíveis nas escolas e outra acontecerá inevitavelmente no futuro.
Os castigos físicos são por ora condenados pelas nações ocidentais, pela EU e pelo nosso país. Assim, as mudanças começarão primeiro nas principais nações (EUA, UK, França..), que se aperceberão em breve da necessidade da reposição de alguns castigos físicos e terão que o fazer. Os pais também irão aceitar e compreender essa necessidade para a protecção dos seus filhos dos poucos jovens com procedimentos anormais. Os castigos físicos eram bem tolerados pelas anteriores gerações de pais e não está provado que tivessem um nível de testosterona inferior ao dos actuais pais.

Quanto à educação dada pelos pais, pergunto: e quando os pais são eles próprios marginais, como vão educar os seus filhos?

Zé da Burra o Alentejano

Rita disse...

Eh pá, e porque não a pena de morte para as crianças também? Realmente o recurso à bofetada, ou à bastonada, tem vindo a provar-se altamente eficaz. Por que não de facto colocar estas crianças todas na prisão ou dar-lhes choques eléctricos?
Este tema tem sido alvo de um exagero atroz. O caso daquela professora, que manifestamente não sabe comportar-se à altura - tal como a aluna, obviamente, não a estou a desculpar - não pode nem deve ser extrapolado para um caso de violência...

O que é que o senhor defende? Um par de estalos na miúda? E que tal uma professora menos histérica também? Ou bate-se nas duas?

Eu estou completamente de acordo com este texto do rui tavares. Não é pela lei e pelo estatuto do aluno que os professores ganham a chamada autoridade, que eu gostava de substituir por respeito. Mas respeito mútuo. É isso que não existe. E todos nós tivemos professores quwe respeitámos mais e outros menos. E normalmente, não era o medo que nos movia...

papu disse...

Voltar aos castigos físicos é a mesma coisa que voltar à idade média.

Achava eu que ninguém gostaria de voltar para a idade média.

Mas a vida é feita de surpresas...

Anónimo disse...

Só vejo críticas à minha opinião. Infelizmente, não vejo propostas para se encontrar uma solução.
Vá lá esforcem-se...digam lá como deve o problema ser resolvido.

Zé da Burra...

Anónimo disse...

Rita

Perante um delito deve haver uma resposta, vulgo: castigo e é quanto ao castigo que gostaria que se referisse. Já sei que não concorda com castigos físicos, mas eu tive-os na escola (e não foi por mau comportamento). Também não fiquei traumatizado nem foi na "idade média". Foi só há cerca de 40 anos.

Que castigos devem ser aplicados aos alunos mal comportados? Ficam de castigo numa sala escura? Há o risco de ser considerado hoje até uma violência psicológica. Além disso, quando os visados se aperceberem de que nada lhes acontece se recusarem o castigo é isso mesmo que vão fazer: recusam o castigo. E depois? São multados? Quem paga as multas? Pagam-nas os alunos ou os pais? E se não pagarem? E se não tiverem meios para isso? Qual é o castigo alternativo? Ficam impunes?
Expulsam-se da sala de aula ou da escola? Não serve de nada, apenas se transfere o problema para o exterior da sala de aula ou da escola. Esses jovens irão dar azo à sua liberdade doentia noutro lugar.

Quanto às habituais frases de retórica: "respeito mútuo", "tratar o assunto com psicologia", (que eu já conheço de "ginjeira") espero que lhe seja muito útil um dia quando estiver perante uma situação crítica, como: ser insultada na escola, na rua, no trânsito ou noutro qualquer lugar; quando estiver a ser assaltada, violada ou maltratada de qualquer outra forma, seja por adolescentes ou não.

Zé da Burra...

Rita disse...

Soluções? Ó meu caro, há muitas e de certeza que não passam pela estalada.

Para começar que tal uma escola que trate os alunos também com respeito? Onde os professores sejam contratados pela própria escola, de acordo com as suas necessidades? Que tal uma escola como se fala aqui neste blogue num post abaixo? Que tal uma escola onde o professor não se limita a debitar e os alunos ficam sentados a ouvir? É que há umas assim e, pasme-se, até funcionam bem...

É claro que esta aluna deve ser castigada pelo que fez. Não me parece também é que ela seja a única culpada. Aquela professora também não agiu bem. O que eu acho é que há muita coisa a fazer antes que estas coisas aconteçam. E quando eu falo neste caso, não acho que estejamos perante violência, mas antes indisciplina, que é bem diferente.

ter uma professora histérica também não me parece um bom começo....