terça-feira, março 18, 2008

Primavera

Os ramos das árvores vestem-se lentamente de verde. Os cheiros esticam os braços, aqueles cheiros doces a flores e a terra. A primavera é, antes de mais, a estação do acasalamento. Ao vestirem-se de folhas, as árvores e os pequenos arbustos enchem-de de cortinas, recantos ocultos, labirintos entre a vegetação. Durante o verão, aquilo que todo o inverno não passa de ramos e troncos despidos e transparentes, que deixam ver a imensidão do espaço e a água fria do lago, atrás, transforma-se numa profusão fantástica e verdejante de véus chineses a iludirem o espaço e a esconderem o íntimo, como um caracol que se fecha na sua concha. A intimidade é, como a primavera, a estação dos esconderijos, na nudez invernosa do corpo.

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