domingo, junho 15, 2008

Outros tempos II

Lembro-me também de um trabalho para saúde mental que era um estudo qualquer que metia marinheiros. Não me lembro da ponta de um corno do que tratava o tal estudo, nem o que pretendíamos provar, mas lembro-me que era com marinheiros. Passámos dois ou três dias em casa de uma das colegas, em Paço de Arcos, parece-me (à volta só havia prédios todos iguais) e acho que ao fim desse tempo estávamos todas com alguns neurónios a menos. De certeza que todos os estudantes têm no seu currículo um ou dois (ou mais) trabalhos deste género, em que a metodologia imposta roçou as franjas da esquizofrenia. Lembro-me de estarmos a distribuir questionários entre as quatro (éramos quatro ou cinco, já não sei), aos quais tínhamos de responder em nome dos supostos marinheiros. Cada grupo de marinheiros tinha de corresponder a um certo perfil psicológico, pelo que as respostas tinham de bater certo com isso. Lembro-me que às tantas não podíamos mais com o caricato de tudo aquilo e desatávamos a rir sem conseguir parar, agarradas à barriga. Já não me lembro se refutámos ou confirmámos o raio da hipótese em causa. Lembro-me ainda de uma série de trabalhos que não nos deram descanso durante semanas a fio, com umas festas pelo meio e muita loucura à mistura, e de que, já não sei como, acabaste por torcer o pé ou qualquer coisa do género, o que fez com que durante uns tempos andasses com uma bengala de madeira, que um dos nossos colegas te arranjou (seria da mãe dele, ou da avó, já não me recordo). Tu gostavas de andar com a bengala e parece-me que acentuavas ainda  mais o andar coxeante (meu Deus, isto existe?), vá lá, o coxear, só para poderes curtir a situação. Depois, às vezes, quando nos dava a veia tresloucada, o que acontecia amiúde, largavas a bengala para o chão com estrondo, num gesto teatral, e ensaiavas uns passos esforçados, enquanto gritávamos, histéricas, com o sotaque açucarado do outro lado do atlântico: "milagre! Milagre!" Geralmente, dava-nos estes ataques no meio de montes de gente, pelo que ficava tudo a olhar para nós como se sofrêssemos de algum desvario. E nós, raladas.

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