sábado, julho 12, 2008

Varrer

Eu quando era pequena gostava muito de varrer. Passava tardes a varrer a varanda da casa da minha avó. Era grande, a varanda. Ainda é grande, mas já não tanto como naquela altura. Desconfio que agora é que precisava de uma bela de uma varridela, mas já não há quem se importe com as carradas de terra acumuladas nos cantos nem com as folhas secas. Naquela altura, o pó era sempre muito, mas as minhas vassouradas levavam a melhor. Eu varria, varria, varria, e depois quando chegava a altura de apanhar a sujidade com a pá, atrapalhava-me sempre, e acabava por nunca conseguir apanhar todos os grãozinhos de poeira, o que era uma frustração imensa. Talvez por isso gostasse de varrer, mas evitasse essa fase final da tarefa, e a poeirada acabava quase sempre encostada a um muro ou atrás de algum vaso. Lembrei-me disto hoje porque, ao varrer o chão lá fora, deparei-me com a mesma irritação na altura de enfiar com o lixo para dentro da pá. E lembrei-me também que, enquanto varria, fazia estórias na minha cabeça. Ou deveria dizer contava estórias a mim própria? Não sei, mas é coisa que me acontece constantemente, enquanto me dedico às actividades mais banais. Mas não acontece com todas. Há actividades que me deixam a mente em branco, outras que só me trazem pensamentos angustiantes e outras, ainda, que me soltam as rédeas da imaginação.

Desconfio que às vezes faço certas coisas apenas para poder mergulhar nas teias e nos enredos que se vão tecendo na minha cabeça. Uma coisa um bocado psicótica, eu sei.

Sem comentários: