terça-feira, setembro 02, 2008

Segregação

Eu, antes de chegar a este país, pensava que as escolas só para rapazes ou só para raparigas eram coisa de velhos, tempos antigos, mentes com teias de aranha, ou então manias parvas, modernas, de gente que tem de pôr os meninos (ou as meninas) nos colégios mais caros, adeptos dessas teorias pasmadas de que os cérebros dos rapazes e das raparigas são tão diferentes (qualquer dia até descobrem que, afinal, pertencemos a espécies distintas) que justificam, aliás, mais do que isso, exigem, que as técnicas de aprendizagem sejam substancialmente diferenciadas e de todo incompatíveis.
Mas o que eu não sabia é que estas teorias proliferam mais que os cogumelos... Principalmente aqui, em Inglaterra. O número de escolas secundárias (públicas e privadas) só para um dos sexos é abissal, comparado com Portugal, por exemplo. Para cada escola unisexo, deve haver para aí duas onde não se toleram as misturas.
Eu nem me dou ao trabalho de pôr em causa as tais diferenças entre os sexos, que estão na base dessas teorias (embora tenha uma opinião diferente, mas não vou por aí). Se calhar até é verdade que, sem os rapazes ao lado, as raparigas aprendem e concentram-se mais facilmente, e o mesmo para os rapazes, que perdem tanto tempo com garçolas parvas só para impressionar as meninas... Ou talvez sim, as meninas talvez tenham uma maior capacidade de atenção e concentração, e os rapazes, mais activos e ligados ao saber-fazer, exijam métodos mais virados para a prática, para a demonstração. Hoje em dia muito se fala e se estuda sobre os diferentes estilos de aprendizagem; há pessoas que aprendem melhor vendo, outras ouvindo, outras fazendo e experimentando. O que eu acho é que é uma aberração, a escola só se preocupar com a optimização do potencial funcional (ligado ao conhecimento) dos alunos. Como se estes fossem máquinas. Olha, se isolarmos esta peça aqui, se fizermos uma ligação ali, a coisa funciona melhor. Produz mais. Mais e melhor.
Mas o que é que é mais e melhor, nestas idades?
Imaginem uma coisa completamente desligada da realidade, mas que serve perfeitamente para ilustrar onde pretendo chegar. Imaginem que o último estudo da berra sobre as potencialidades do cérebro humano revelava que, para optimizar o seu funcionamento, para que o homem (e a mulher) começassem a usar aquelas capacidades da massa cinzenta ainda inacessíveis ao nosso conhecimento e alcance, era necessário cortar uma perna. Provava-se que, cortando uma perna, a capacidade cerebral aumentava, sei lá, 15%. Sem as duas pernas, tínhamos um incremento de 30%. Um braço representava 10%. Não se esqueçam que isto é um absurdo. Mas é um absurdo que tem a inteligência de demonstrar uma coisa muito simples: é claro que a ninguém passaria pela cabeça desfazer-se de um braço ou de uma perna para benefício da sua capacidade intelectual. (Acho eu, sei lá. Afinal, há malucos para tudo).
E o que é que isto tem a ver com as escolas separadas? É muito simples, meus caros: a escola é um dos motores principais da socialização das crianças e dos jovens. Na adolescência, o papel que a escola tem na socialização e na consrução da personalidade é até muito mais importante que os conhecimentos e as matérias que por lá se aprendem. Nesta fase da socialização, o contacto com o sexo oposto é fundamental. O contacto com o sexo oposto, na formação da personalidade, é uma perna, ou um braço, ou até as duas pernas, e os dois braços, da futura estrutura psicológica, do edifício psíquico, do corpo animado, da pessoa. A verdade é que, aquilo que não se vê (o tal corpo, neste caso invisível, da estrutura de cada personalidade) ainda não existe e é completamente ignorado. Neste ponto, ainda estamos na idade média.

1 comentário:

Kate disse...

Eu também nunca consegui ver vantagens neste tipo de separação, muito pelo contrário. Sempre achei que a partilha, desde cedo, com o outro sexo é uma mais valia para compreendê-lo. É que, a maior parte das vezes, são tão óbvias as diferenças de comportamento entre os sexos, que julgo que o convívio com o outro sexo poderá trazer ensinamentos para toda a vida.

Achei excelente a comparação que fazes com tirar alguns dos nossos membros. Nunca me lembraria de tal comparação, mas não podia ser mais elucidativa. Concordo plenamente.