quinta-feira, outubro 02, 2008

Ordinary people

De há uns meses para cá, temos uns vizinhos novos. Um casal com uma criança, acho. Digo assim porque na realidade ainda não os vi bem - apenas os vislumbrei de relance, da janela do quarto, nas noites de julho - parece que foi há uma eternidade - lá fora no jardim, sentados à volta da mesa, um cigarro, uma lata de cerveja ou coca-cola, não faço ideia, uma conversa amena. O idioma parece ser de um país de leste qualquer - também não faço a mínima. Mas o que mais me andava a intrigar era o facto de não se ouvir a dita criança. São sempre os berros e os urros dos meus filhos - e os meus - que ecoam por estas paredes. Do lado de lá, parece não haver vivalma.

Ora, hoje desvendei o mistério. É apenas uma questão de perspectiva - ou de silêncios, e de ruídos. É que, durante a tarde, enquanto o pai levou os miúdos à piscina, eu fiquei sozinha - e que bem me faz o silêncio. Pois, um silêncio cheio de ruídos de fundo - de vozes - vindos da casa ao lado. Gargalhadas, gritos, berros, urros de criança - abafados pela espessura das paredes. Compreendi por fim porque é que não os oiço - porque é que nunca oiço a criança. Fiquei mais descansada. Afinal, nem nós, nem eles, somos esquisitos - somos todos saudavelmente normais (e barulhentos). Não gosto da palavra normal, prefiro o inglês ordinary. É isso que somos. Just ordinary people.

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