De há uns meses para cá, temos uns vizinhos novos. Um casal com uma criança, acho. Digo assim porque na realidade ainda não os vi bem - apenas os vislumbrei de relance, da janela do quarto, nas noites de julho - parece que foi há uma eternidade - lá fora no jardim, sentados à volta da mesa, um cigarro, uma lata de cerveja ou coca-cola, não faço ideia, uma conversa amena. O idioma parece ser de um país de leste qualquer - também não faço a mínima. Mas o que mais me andava a intrigar era o facto de não se ouvir a dita criança. São sempre os berros e os urros dos meus filhos - e os meus - que ecoam por estas paredes. Do lado de lá, parece não haver vivalma.
Ora, hoje desvendei o mistério. É apenas uma questão de perspectiva - ou de silêncios, e de ruídos. É que, durante a tarde, enquanto o pai levou os miúdos à piscina, eu fiquei sozinha - e que bem me faz o silêncio. Pois, um silêncio cheio de ruídos de fundo - de vozes - vindos da casa ao lado. Gargalhadas, gritos, berros, urros de criança - abafados pela espessura das paredes. Compreendi por fim porque é que não os oiço - porque é que nunca oiço a criança. Fiquei mais descansada. Afinal, nem nós, nem eles, somos esquisitos - somos todos saudavelmente normais (e barulhentos). Não gosto da palavra normal, prefiro o inglês ordinary. É isso que somos. Just ordinary people.
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