quinta-feira, novembro 20, 2008

Lamechices

Comovo-me facilmente com coisas piegas. Filmes, telenovelas, até desenhos animados. Sempre fui assim. Tento sempre esconder as lágrimas, pelo embaraço que me provocam. Parece-me sempre um espectáculo patético, alguém a chorar em frente a um ecrã de televisão ou de cinema. Só dou largas à emoção quando estou sozinha. O que é muito raro. Ontem, estava numa dessas ocasiões raras, a ver o programa da Oprah, de que nem gosto por aí além. Mas estava com aquela preguiça em que só nos apetece fazer coisas que geralmente não fazemos, como ver programas desinteressantes, apenas por inércia dos neurónios. E aqui fiquei, estendida no sofá, a sentir as lágrimas a morder-me os olhos, senão mesmo a escorrer cara abaixo, enquanto ouvia o testemunho de mãe e filha, que, tendo sido atacadas por um urso dentro da sua própria casa (ao que parece, o vizinho teria uma espécie de jardim zoológico no quintal, e um dos ursos ter-se-ia escapado, e arrombado a porta da casa da vizinha), acabaram por conseguir sobreviver graças ao sangue-frio da filha, de quinze anos. A mãe acabou internada no hospital, com uma orelha pendurada e vários buracos e golpes profundos espalhados pelo corpo. Uma tragédia. A filha conseguiu salvá-la graças à ideia brilhante de ir ao frigorífico e atrair a criatura com um bocado de carne, quando estava se preparava para abrir a bocarra e enfiar lá a cabeça da mãe (ficou apenas pela orelha, o que já não foi pouco). Não percebi bem o desfecho, mas ambas estavam vivas e de boa saúde (a mãe com bastante bom aspecto, depois daquela prova de nervos). Depois continuei a chorar enquanto ouvia uma rapariga, adolescente ainda, contar como foi salva de um carro que se estaria a afundar, por um homem que se aventurou a mergulhar, partir uma das janelas com uma pedra, e a agarrá-la pelos cabelos e puxá-la para fora. O avê, infelizmente, não sobreviveu. Entretanto, a história de uma mãe que, durante um tornado, salvou os dois filhos pequenos, tapando-os com o próprio corpo. A casa ficou em ruínas e ela acabou paralítica da cintura para baixo. Mas salvou os filhos. Aqui o caudal das lágrimas aumentou consideravelmente. Depois apareceu um grupo de homens fardados, todos USA marines, regressados do Iraque, e assistimos à sua reunião com as famílias. E eu, que abomino guerras, e tenho uma especial antipatia por exércitos e por tudo o que se relacione com militarismos, ali estava eu, lavada em lágrimas, a ver aqueles homens, todos incrivelmente novos, a abraçar as mulheres, as mães, os pais, os irmãos e os filhos - alguns ainda bebés - que irradiavam felicidade por todos os poros. Estas coisas pioram com a idade, só pode ser.

2 comentários:

CLS disse...

Pfff, havias de me ver quando assisto ao Extreme Makeover: Reconstrução Total do PeopleArts, em que fazem casas novas para famílias muito desgraçadas, isso é que é choradeira! Até já deixei de ver, já me enjoava a minha pieguice.:)

morfose disse...

Lamechices, mesmo.
Quanto mais velha estou, mais me "esmonco" toda a ver certas coisas.