quinta-feira, novembro 20, 2008

Na piscina 1

De manhã, a piscina está mais ou menos vazia. Consegue nadar-se à vontade. A água está muito azul, e, se o sol espreita das nuvens, salpica-a de pequenas ondulações cintilantes. Debaixo de água, o efeito aumenta consideravelmente. É como se a água se tingisse de pequenos borrões de uma substância luminosa, fluida, com a limpidez e a intensidade do brilho dos cristais. Quando mergulho, vejo os quadradinhos dos azulejos do chão, e as partículas de luz a agitarem-se, numa dança silenciosa de espelhos. Os sons esbatem-se, e só oiço a minha respiração e o bater calmo do coração, que não sei se é o meu se o do centro da terra. Enquanto nado, esqueço-me de mim, não penso em nada, apenas sinto o movimento da água a percorrer-me o corpo, como se fosse ela a mover-se, e não eu. Não penso em nada e penso em tudo, ao mesmo tempo - todos os pensamentos me afluem à cabeça com a velocidade da luz, e acabam espalhados pelo ar que me sai dos pulmões, cada vez que venho à tona para respirar. Alguns deles, saem-me pela boca, com as bolhas de ar, e dissolvem-se na água, num sobressalto mudo e inquieto. O meu corpo desloca-se na água, e o meu pensamento voa, algures, num céu azul e transparente como aquela água. Ou talvez não. O meu pensamento nada, afinal, nada, nada e nada - até não ser mais que isso, nada.

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