quinta-feira, novembro 20, 2008

Na piscina 2

Às vezes, o meu pensamento detém-se, e ganha demasiada consciência dos outros corpos que se movem comigo na água. A água é um corpo contínuo, líquido, ligado, onde as coisas flutuam e se movem de forma completamente diferente de quando estão fora dela. Quando se deslocam no ar, os corpos estão efectivamente separados uns dos outros - dentro de água, há algo que os liga. Algo líquido que flui e que os une - ela, a água.

Vejo a mulher que nada à minha frente. Sinto a ondulação que ela provoca a bater-me na cara e nos braços - pequenas ondas de água. Sinto o corpo que passa, em sentido contrário. Como numa estrada, dois carros em sentidos opostos. O abanão do vento nas janelas do carro. Aqui é mais a ondulação da água, a deslocação, o movimento. Sinto e vejo - vejo o outro corpo a mover-se debaixo de água. Debaixo de água é tudo silencioso. Fora de água também, graças às protecções que uso nos ouvidos, para a água não entrar. Ultimamente, a água nos ouvidos estava a tornar-se um martírio - ficava temporariamente surda, às vezes sentia vertigens. Sinto também o corpo que nada atrás de mim, mesmo sem o ver. Incomoda-me. Não sei porquê. Queria poder nadar nums piscina sem mais ninguém. Naquele momento, não são pessoas que me acompanham, apenas corpos. Corpos estranhos. Que causam irritação, como um corpo estranho num olho.

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