sábado, janeiro 31, 2009

Rir é o melhor remédio

Principalmente, rir de nós próprios.
Mas como se ensina isto a uma criatura de cinco, quase seis anos?
Com o exemplo, suponho?
Se bem que a auto-estima é uma coisa tão frágil, que, muitas das vezes, tem de ser tocada com luvas. E que luvas! Daquelas macias, gentis, maços de ternura nos dedos. Pois é.
O David escreveu um poema sobre o Diogo, na escola. O título era qualquer coisa como My annoying brother. Depois discorria sobre os hábitos da criatura: ir à casa de banho e deixar a porta sempre aberta, acordar de manhã e coçar a cabeça, ressonar enquanto dorme, acordar, adormecer e... voltar a ressonar, etc (eu não li o poema, só ouvi algumas partes que ele me citou de memória, mas até ele não se lembrava bem do que escrevera. Ora, como podem ver, pecados gravíssimos, na óptica daquela idade, lembram-se? Talvez sim, talvez não...)
Parece que o rapaz escreve com humor, pois. E pôs a escola inteira a rir, quando leu o tal poema na assembleia geral. Quem não achou graça nenhuma foi, como se está mesmo a ver, o Diogo.
Desculpa do David: «Eu não sabia que ele ia estar lá a ouvir!»
Pois, mas a assembleia de sexta feira é sempre com a escola toda, acho estranho que ele se tenha esquecido disso...
«E o teu irmão ficou muito triste, David?»
«Ficou assim mais zangado...»
Pois, deve ter feito aquela cara de zangado que costuma fazer quando o irmão o irrita. E quando questionado por mim:
«They were all laughing at me!»
Um coração destroçado. E eu, o que faço?
Com muito jeitinho, muitos abraços e muitos mimos, tento que ele veja que as pessoas não se estavam a rir dele, mas sim do que o irmão escrevera, que até era engraçado, não era?
E a vozinha dele:
«Não era...»
Pois, mas se fosse sobre outra pessoa, não achavas graça? A resposta já foi outra. 
Pronto, ficaste envergonhado, não foi? Não faz mal, eu percebo que não tenhas gostado nada que o mano lesse aquilo para a escola inteira ouvir (apre! Imagino a vergonha dele! Eu no lugar dele tinha morrido de vergonha!)
mas o mano não estava a gozar contigo, filho. Ninguém estava. O mano gosta muito de ti e toda a gente na escola também gosta muito de ti. 
(Acho que não ficou convencido. Não, isto não se pode ensinar. Só quando aquela coisa tão frágil ganhar raízes e força nos braços é que já pode sofrer os abanões do riso sem correr o risco de quebrar-se. E, como tudo, leva o seu tempo. Às vezes nunca acontece. Eu tenho fé. E não tenho apenas fé. Tenho uma tarefa nas mãos. Mas só posso fazer a minha parte, claro. O papel principal é dele.)

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