sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Há qualquer coisa que nunca foi o que era ou outra maneira de contar o dia de anos

E ontem passámos a tarde num desses centros de lazer que fazem as delícias da criançada e os pesadelos de alguns adultos assim a atirar para o ansiogénico (como eu...), mais preocupados em discernir os perigos potenciais à vista do que em abancar e gozar o prato (mas abancar aonde, se aquilo estava a abarrotar pelas costuras, só no chão, no meio das nódoas da alcatifa, que nojo...), caramba, porque raio não consigo ser como os outros pais e as outras mães, para ali sentados no meio daquela confusão da música misturada com os berros histéricos da miudagem sem se preocuparem minimamente por não fazerem a mais pequena ideia de onde se encontram os rebentos naquele preciso momento e no meio de toda aquela balbúrdia, tudo a falar e aos gritinhos, o que tudo misturado dá uma boa de uma mesclagem de gritaria exclamativa e entusiasmada, mas que aos meus ouvidos, neuróticos como deus fez, soava como gritos de angústia e quiçá pedidos de ajuda, socorro, mãezinha, que estou a ser atacado por selvagens! (selvagens? Mas onde é que nos fomos enfiar? na selva?)
Pois olhem que eu prefiro a selva. Não sei se por ser campónia, parola, ou por ter passado tempo de mais na província, de férias, sempre fora de portas (quando o tempo o permitia) que não suporto esta ideia das brincadeiras dentro de portas. E o barulho e a confusão, meu deus! Os miúdos divertem-se que nem uns doidos, é certo. E adoram. E era vê-los no meio daquela confusão, aquela gaiola gigante que a mim me fazia lembrar algumas jaulas de macacos no jardim-zoológico (juro!), uma espécie de castelo com vários andares assentes em sucessivas plataformas por onde eles vão subindo e descendo e embrenhando-se por compartimentos cheios de bolas onde se lhes afundam os pés e outras coisas que tais como escorregas e coisas penduradas para eles agarrarem ou para lhes dificultar a passagem e ainda ser tudo  mais divertido... É claro que toda esta parafernália não oferece o mínimo de risco em relação a pancadas na cabeça ou outras partes do corpo: é tudo almofadado, tudo de plástico, materiais moles, um must em termos segurança infantil; pois está mais que evidente que a neurótica aqui sou eu, que devia era deixar-me de merdas e implorar ao GP uma prescrição de qualquer pílula milagrosa que desfaça estes achaques de angústia aguda em pedaços, antes que dê em doida de vez. Pois que fico para ali a olhar as criaturas com mal disfarçado nervosismo, a pensar que não as posso perder de vista (e se se perdem?), o que se revela impossível dada a quantidade de miúdos e a profusão de compartimentos e esconderijos daquele maldito castelo; enquanto respiro de alívio por aquela geringonça só ter um acesso de saída e de entrada, ao menos assim não podem sair dali sem eu ver; e ao mesmo tempo penso na hipótese macabra de uma evacuação forçada, meu deus, se acontece alguma coisa (tipo um terramoto ou uma erupção vulcânica; pronto, um simples incêndio, vá lá) e é preciso evacuar a sala; como é que vai ser possível, meu deus, se aquilo é um autèntico labirinto em vários andares, completamente fechado com redes, e só com um acesso de saída e de entrada, cheio de miúdos aos gritos e aos pulos e a empurrarem-se uns aos outros que para falarmos com quem está ao nosso lado temos de gritar?
Decididamente, não sou mãe para estas coisas. Sou mãe para correrias na relva, saltos dos escorregas, esconder atrás das árvores, saltar por cima dos muros (assim daqueles baixinhos!), e até partir a cabeça, pronto, desde que seja numa pedra. Aspirar o ar livre, ouvir os seus gritos e poder vê-los a alguma distância, ter o canto dos pássaros como barulho de fundo e sem outra coisa por cima da cabeça a não ser o céu. Até pode chover um bocadinho, e haver lama debaixo das botas, que não é isso que me faz voltar a correr para casa. Mas obrigo-os a escovar bem os pés no tapete, à porta de casa.

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