sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Na piscina 5

Detesto as pessoas que vão à piscina nadar como se estivessem numa competição. Se querem sprintar, há pistas próprias para isso. As pistas estão divididas em joggers e sprinters. Eu por acaso só reparei nisso no dia em que me enfiei numa das pistas dos sprinters e vi a tabuleta, mesmo à minha frente, quando nadava de volta. Mudei logo de pista. Não gosto de nadar a correr. Gosto de estar dentro de água e ir nadando. A maioria das pessoas parece que estão na maratona, e depois perguntam sempre, com os bofes a sair da boca: "Quantas piscinas já fizeste? Quantas fazes em média?" Eu, a única vez que tentei contá-las, perdi-me entre a terceira e a quarta. Não consigo concentrar o pensamento quando estou a nadar, já o disse. Nadar faz com que o meu pensamento adquira barbatanas (ou asas). Voar e nadar devem ser coisas muito parecidas. Ambas invertem as leis da gravidade. A gravidade é uma força que nos mantém os pés no chão e os pensamentos no lugar certo. Como o nome indica, faz-nos seres mais graves. E sim, é um caso grave. Estar sempre com os pés na terra e os pensamentos no lugar, quero dizer.
Mas já me estou a perder, e nem estou dentro de água. Também detesto aquelas pessoas que nadam atabalhoadamente, não cumprem as regras de circulação (muitas vezes vão em sentido contrário só para nos ultrapassarem) e, como se isso não bastasse, devem tornar-se insensíveis ao toque debaixo de água, porque vêm para cima de nós. Se querem sprintar vão para a outra pista, caraças! Também devia ser proibido salpicar quem vai em sentido contrário. 
Ora hoje, estava eu calmamente a nadar, e andava este gajo a fazer piscinas de costas, os braços em vez de irem para o alto iam para o lado, a salpicar tudo e todos à sua volta. Passei duas vezes por ele e quase que levei com um braço em cima da cabeça. Às tantas, sinto atrás de mim umas batidas na água, e apercebo-me que a cavalgadura está com a cabeça à altura dos meus pés. Paro, mesmo a tempo de não levar com o trambolho em cima de mim, e ainda sinto o braço dele a roçar-me a pele, enquanto tenho de desviar a cara por causa dos salpicos. Nem sequer parou quando se apercebeu que chocava comigo, e nem sequer pediu desculpas. Fiquei fula. O gajo ainda por cima nadava mal, e lia-se na cara que não estava à vontade dentro de água. Senti ganas de o afogar. O que vale é que, dentro de água, estes instintos assassinos acabaram por dissolver-se no meio do azul e do cheiro do cloro.

2 comentários:

Sofia disse...

ah ah, percebo perfeitamente a tua furia. Tambem ja levei com bracos e pernas em cima, e acho que nem se aperceberam... falta de sensibilidade e respeito pelos outros esta muito espalhada nos dias que correm, infelizmente.

Lelena Lucas disse...

Gostei muito de "segredos e condimentos". Por que não há espaço para comentários por lá?
Beijos pra você, minha amiga portuguesa. Sempre boas nossas trocas!