segunda-feira, maio 11, 2009

Não, não é uma contradição

Já há muito tempo que não me acontecia isto.
Desligar o computador, ir lavar a loiça, e começar a sentir aquela ânsia das palavras a quererem sair dos dedos. Que coisa.
Já nem sei bem o que queria dizer. Era sobre esta histeria colectiva da sabedoria e da inteligência. 
Quando os nossos filhos entram para a escola sentimos aquele orgulho anunciado. Aprender a ler, a escrever, a contar, a pensar, a raciocinar. Que maravilha!
Como se antes disso eles não soubessem já ler, e escrever, e contar, e pensar, e raciocinar.
Não, não é preciso saber as letras para saber ler. Escrever é algo que se aprende mal se consegue segurar um lápis ou uma caneta na mão, ainda que não sejam visíveis nenhumas palavras escritas. Há palavras que não precisam de letras para serem escritas. Talvez sejam essas as palavras mais importantes de todas. E para contar também não precisamos de números. Precisamos apenas de olhos para ver e enumerar tudo o que há à nossa volta. Assim como pensar não se aprende. E quanto ao raciocínio, é apenas um braço do pensamento.
Aliás, para se ser mãe, ou pai; para, enfim, saber embalar um filho nos braços, não é preciso saber ler nem escrever, muito menos contar. Aliás, quanto menos sabedoria livresca melhor. Para parir a mesma coisa. Parir é algo que só se consegue fazer de olhos fechados, junto ao coração.
Porque nesta era de tanto iluminismo, às vezes precisamos das trevas. Talvez precisemos de nos tornar um pouco analfabetos. De nos esquecermos do que nos ensinaram, para podermos aprender de novo. E isto das trevas não é nenhuma metáfora. Refiro-me apenas à escuridão. Não àquela que nos impede de ver, mas a que nos abre os olhos.

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