domingo, junho 28, 2009

areia branca 1

Já tentara umas duas ou três vezes, sem êxito.
Bem que relia as instruções, a ver se estava a faltar alguma coisa. Nada. Nela é que devia faltar a coisa, sem dúvida.
Descontraia e relaxe o períneo. Pegue no tampão e com a outra mão abra os lábios da vagina com suavidade. Introduza o tampão com o dedo indicador, até dois terços do dedo ficarem dentro da vagina.Tenha o cuidado de deixar de fora o cordão que serve para retirar o tampão. Se sentir desconforto repita a operação.
Já tentara com aplicador também. Nada resultava.
Não conseguia encontrar o buraco da vagina.
Tê-la-ia perdido?
Às vezes ria para dentro, mas lá no fundo não achava graça nenhuma. Era preciso ser muito anormal para, na idade dela (dezoito? Dezanove?) não conseguir colocar a porcaria de um tampão.
Às vezes, no banho, lá tentava enfiar o dedo. Nem isso. Quer dizer, enfiava o dedo em todo o lado, menos naquilo. Parecia que o buraco sumira.
Será que tinha algum defeito de nascença? Imaginava o escândalo mediático: "Mulher nascida sem vagina. Os médicos investigam o caso. Só aos dezoito anos a rapariga se apercebeu de que não tinha..." Era melhor parar de imaginar.
Nem à melhor amiga ela contava tamanha vergonha.
Com a melhor amiga ia acampar todos os verões, e naquele ano foram para a Areia Branca. Andavam excitadíssimas com os dois alemães que tinham chegado de mota e montado a tenda mesmo ao lado da delas. Numa noite de trovoada um deles veio pedir-lhes uma lanterna e elas desmancharam-se a rir como duas garotas histéricas. No outro dia mal conseguiam encará-los. Quando estavam estendidas na toalha, com o sol a pôr-se no mar e a pele a arder arrepiada de sal, riam à gargalhada ante a perspectiva de comer alemães ao jantar. E continuavam a rir cada vez que se cruzavam com eles. Na rua, na praia, à entrada do parque de campismo, no café.

Sem comentários: