Crescendo

Um dos girassóis já está maior que eu. As folhas grandes e largas abanam graciosamente ao vento. As flores ainda não se adivinham, mas hão-de chegar. Também as flores da minha avó estão a caminho. As braçadas da planta cresceram tanto e o vento empurrou-as em todas as direcções que lembram uma melena desgrenhada. As rosas, essas, já estão a florir. Os brincos de princesa ainda são apenas pequeninos botões de gente.

(só quando cuidamos das plantas como se de nós dependesse a sua vida, que é a mesma coisa que delas depender a nossa - porque a vida é uma só - é que lhes damos vida, e também elas nos passam a dar vida - e existem, fora de nós e dentro, e trazem-nos o oxigénio ou as memórias, os cheiros, as pessoas que amámos e já não podemos ver, as almas que nos protegem e aquelas que protegemos - porque o acto de cuidar tem esse poder de reverter a acção.)

Hoje o meu filho veio sozinho para casa. Só teve de atravessar uma estrada mais movimentada, e com passadeira.

(Vai fazer 10 anos.)