segunda-feira, julho 06, 2009

Oração à lua

Recolhi as lágrimas, uma a uma. Deixei-as a secar ao sol e depois poli-as até serem pequeninas pérolas de luz. De seguida enterrei-as ao luar, e entoei os cânticos. O primeiro, para que dentro delas o sofrimento adquira a transparência dos cristais. O segundo, para que seja devolvido à terra o pranto que nelas secou. E o terceiro, para que à face da lua regressem, as pequenas lágrimas de pedra, brancas quando lhes bate a luz, negras quando lá no fundo do abismo oceânico.

Sim, emprestei os meus olhos à lua. Durante séculos chorei mágoas cristalizadas, duras, frias, ausentes de humidade e de sal. Agora canto em oração para que me seja devolvido o mar inteiro do desgosto. Tenho saudades dos soluços, dos rios e das quedas de água. Tenho saudades de me afogar em lágrimas. Tenho o rosto sulcado por arestas cortantes de tanto chorar pedras. Pedras lindas, luminosas, pequenos cristais de brilho raro e azul.

Tão lindas e tão frias e tão pouco tristes.
Pérolas descendo na face lívida da lua, menina da lua, menina boneca.
A tristeza de fingir, como ela.
E o oceano inteiro a pulsar a pulsar a pulsar.
De tanto querer chorar.

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