sexta-feira, setembro 04, 2009

Voltar

Voltar é um verbo mentiroso. Não se volta a um lugar nem a um tempo. Aliás, nunca se volta para trás. Os lugares são outros. Nós somos também outros. Sempre. As viagens mudam-nos, levam-nos para outros sítios. A viagem de volta não é senão outra partida para lugar incerto.
Sempre que volto é como se voltasse para outra morada. Uma casa que construo todos os dias. É como recomeçar a dar os passos. Não os primeiros, mas os outros, os que ficam no meio dessa caminhada, os mais difíceis, pois nunca sabemos onde nos levam.
Caminho solitário. Caminho sem destino. Mas os passos talvez comecem a formar um desenho. Caminho para conhecer esse desenho. Nunca quis tanto conhecer um destino. O meu, que é cada vez menos certo mas mais meu. Ou não. Às vezes também acho que está tudo mal, que nada me leva a nada, que não tenho rumo, que me perco, que nem sei.
É muito fácil ter opiniões e dar conselhos. É tão fácil ver nos outros os nossos próprios espelhos. O difícil é saber para onde vamos, pegar o leme, dar rumo à embarcação. Os amigos vão-se com os anos, mas alguns ficam na palma da mão. Como as linhas que dizem que traçam o destino. Afinal os amigos devolvem-nos o espelho. O melhor de nós. A gente dá e eles devolvem. E assim a gente aprende a encontrar sempre aquele amigo que nunca nos abandona. Em nós.
Estou muito sentimentalona. Quero apanhar tudo e tudo me escapa das mãos.
Voltei de mãos vazias?
Não. Tive de deixar os restos, as lágrimas, o que não me diz nada.
De vez em quando convém separar o trigo do joio.
E encontrei as sementes dos girassóis já quase secas, quase prontas.
Eu também estou quase pronta. Partir de novo, em busca de mim.

1 comentário:

Alex disse...

coisas só tuas e tão parecidas com coisas tão minhas