Ter os pés frios enfiados nas pantufas.
Já ter havido sol e nuvens e vento.
Ter subido lá acima com os miúdos. Ter ficado sentada na relva a vê-los jogar com as raquetes e a pensar porque é que nunca me lembro de levar um livro.
Ter posto a mesa para o almoço às cinco da tarde.
Ter ido colher salsa, coentros e hortelã ao vaso que está no parapeito da janela, lá fora.
Ter pensado que os coentros estão com ar moribundo, apesar da chuva.
Ter olhado com pena os girassóis que estão a secar. Ter pensado em plantar outros já. Será que vingavam?
Talvez só para o ano.
As flores da minha avó voltaram a crescer. Quer dizer, não propriamente as flores, mas a planta.
O tomateiro também está a crescer, mas ainda não deu tomates. As folhas cheiram a tomate.
Os brincos de princesa estão em flor, lindos, e a roseira está de novo a rebentar.
Os sobreiros também estão a crescer, umas folhinhas apenas.
Depois há umas flores que não me lembro o que são, que nem deram flor e que estão a crescer todas tortas para fora do vaso.
Ter ficado a olhar para isto tudo enquanto esperava que o arroz cozesse.
Se fumasse, agora era a altura de acender um cigarro.
Ouvir o idioma de leste dos vizinhos do lado. Interrogar-me pela milésima vez se serão russos, ou polacos, ou eslovacos, ou checos, ou sei lá o quê.
Pensar que a semana passou a correr.
Pensar que só faltam dois dias para a escola começar.
Pensar na roupa que está dentro da máquina.
Deixar de pensar.
Pensar em todas as pessoas que gostaria de ter visto nas férias, em todas as coisas que gostaria de ter feito. Pensar no cansaço das férias. Ou antes, sentir o cansaço, e agora esta paz de céus cinzentos.
Paz de céus cinzentos. Nunca pensei escrever isto.
1 comentário:
Dá pra sentir cada detalhe.
Beijo pra você.
Enviar um comentário