domingo, junho 27, 2010

Coisas que nem sei

Tenho andado com preguiça de escrever. E de outras coisas. Tenho andado cansada e com calor, o que não é mau, tendo em conta que vivo no país das brumas. Tenho andado sem vontade de nada, a não ser cuidar do jardim, olhar o céu e não pensar em nada. Absolutamente nada. Tenho andado com vontade de férias, mas férias de verdade, um fio interminável de dias sem contornos definidos, apenas muito sol, muito azul, muito silêncio, música que faz dançar ou cantar para dentro, areia molhada, mar imenso, conchas e pedrinhas a cheirar a sal, coisas assim. Ou então a música do vento nos sobreiros, pela tardinha, um vento suão que nos fecha as pálpebras e nos faz sonhar com o lago da noite escura. Tenho andado assim, um passo de cada vez, um dia de cada vez. Olhando os meus filhos e vendo-os crescer cada vez mais fora de mim. Na direcção contrária, em curvas imprevistas. A vida é um longo caminho, cheio de encruzilhadas, e aos filhos cabe a tarefa de descobrir novas rotas e perverter aquelas que desenhámos para eles. Desenhámos, não tenhamos ilusões disso. O futuro deles, porém, não nos cabe nos sonhos. Há uma frase de um poema (não me lembro de quem) que diz que os filhos habitam um futuro que nós nem em sonhos podemos visitar. Eu acho que nos sonhos não há limites, mas talvez esse limite esteja precisamente na impossibilidade de sonharmos os próprios sonhos, de nos projectarmos num futuro que se nos escapou desses mesmos sonhos. Um futuro que se desenha novo e livre da nossa imaginação.
Tenho andado assim, pois, ansiando e temendo esse futuro que se adivinha já, caminhando em passadas largas. Ansiando pelas mudanças e novas rotinas, temendo os pequenos nadas que são sempre aqueles que teimamos em ampliar nos pesadelos. Ansiando por conhecer a nova escola, e sabendo de antemão que o entusiasmo não é meu. Meu é apenas o desejo de o ver dar os passos.
Ansiando, sobretudo, que estes dias se arrastem, prolonguem, para que eu possa saborear estes momentos até ao fim. As despedidas, as nostalgias, as expectativas. E a peça de teatro, tão esperada, onde sei que vou sorrir e chorar e rir, e, quem sabe, possa, se não entrar, pelo menos espreitar esse mundo, esse futuro que não me pertence nem em sonhos, mas de que posso sempre adivinhar a sombra, nos olhos do meu filho.
No fundo, é isso que as mães fazem melhor. Adivinhar. Intuir. Vislumbrar. Pressentir. Caminhar às cegas num mundo que não é seu mas lhes saiu do ventre.
Na escuridão, porém, é onde por vezes melhor se vê. No desconhecimento absoluto é onde podemos procurar novas certezas, porque as certezas não passam de malabarismos que utilizamos para subverter as dúvidas que são, no seu conjunto, o único conhecimento real que possuímos.
E isto era para ser um post preguiçoso, boiando à deriva, e acabou assim, de mergulho. Pois.

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