sexta-feira, julho 30, 2010

António Feio

















A primeira memória é do Nando, de uma telenovela de que já não me lembra o nome. Depois vi-o muitas vezes sempre dentro do ecrã da televisão. Até ao dia em que conheci o pessoal do esquerda baixa, um grupo a que dava aulas de teatro na junta de freguesia de benfica. Assisti a inúmeros ensaios, e o que me ficou na memória foi o profissionalismo, a simplicidade, a seriedade e o humor da relação que existia entre ele e aquele grupo de putos, muitos deles com grande talento, e que, sem dúvida alguma, ele ajudou a desabrochar. O modo como encenava, dando-lhes apenas dicas e a liberdade para criar, a partir daí, um personagem, nunca me vou esquecer. Apesar de sempre ter sido uma espectadora, aquele grupo também era (e é) meu. Entretanto os anos passaram e encontrei-o no FB. Mandei-lhe um convite tímido, pensando que talvez não se lembrasse de mim, daquela cara sempre lá caída pelo anfiteatro da junta e pelo café em frente, e em inúmeras peças a que fui assistir; ele, no entanto, lembrava-se. Não sabia da sua doença. A primeira vez que vi a sua mensagem de vida, um vídeo que circula abundantemente por aí, e porque não fazia a mínima de que ele estava doente, aquilo deu-me vontade de rir. O modo de ele falar, aquele modo com que as pessoas que naturalmente fazem rir nunca conseguem um tom de máxima seriedade, ainda que o assunto seja trágico. Comecei a aperceber-me do que se passava pelo teor de muitas mensagens no FB, pelas fotografias, pela partilha de vídeos no youtube de alguns momentos recentes. Fiquei chocada, mas a vontade férrea de sobreviver, a força, a coragem, o humor com que enfrentou a doença, convenceram-me de que iria vencer. Convenci-me mesmo. Acho que ainda não me convenci do contrário.

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