sábado, julho 24, 2010

Desatar nós

Os caminhos estão todos trocados. Antes, perguntava sempre as direções. Agora vou à deriva. Depois logo se vê. Não sei fazer o nó da gravata mas sei desfazer nós muito antigos, daqueles que nos passam para os dedos. Talvez não saiba, e queira convencer-me disso. Preciso de me convencer de muita coisa. Por exemplo, de que sou uma pessoa capaz. Que sei o que quero. Sei o caminho. As curvas, as colinas, as melhores sombras para descansar, e por onde seguir nas encruzilhadas. Preciso de me convencer que sigo em frente. Ainda que vá de lado. De que estou no sítio certo. Ainda que pareça errado. Alguém fez mal as contas, e quem vem depois é que paga. Ou talvez não haja contas nenhumas para fazer nem para ajustar. Talvez o passado esteja fechado num armário, ou escondido num espelho muito antigo. Um armário pequenino, onde se guardavam brinquedos, e onde gostava de me esconder. Talvez não gostasse. Talvez sejam os livros espalhados no chão que guardam a memória. ABC do tomatinho, ABC dos ovinhos, ABC não sei das quantas. Uma menina, com várias páginas, e cada uma era uma peça de roupa diferente, um casaco, depois a saia e a camisola, a combinação, as meias e as cuecas. Às vezes acho que é lá, nos livros que ficaram esquecidos, que jazem as respostas, pequenos cadáveres que nunca foram enterrados.

Sem comentários: