quinta-feira, janeiro 27, 2011
Dentro da toca
O frio voltou, e ela encolheu-se na toca. É quentinha, a toca; talvez um pouco húmida das lágrimas de tantas solidões. Mas é o seu porto seguro, aquele lugar minúsculo onde se sabe protegida. Lá dentro nada nem ninguém a pode afectar. Até o próprio medo se torna um palhaço, um boneco moldado a plasticina que ela desfigura entre os dedos. Fora da toca as tentações são mais que muitas: a tentação de crescer, de se tornar forte e poderosa, de meter pés ao caminho e desbravar o mundo, de ir para longe onde ninguém a possa magoar. Fora da toca tem de sorrir, tem de falar, tem de se comportar como deve ser, tem de responder a requisitos para os quais não está preparada. Nunca esteve, a verdade é que continua a ser a criança tímida que, como um cãozito assustado, só quer que a deixem em paz. A vontade de sair da toca é, pois, pouca ou nenhuma. É tão mais fácil não ter de prestar contas a ninguém, sermos apenas nós, não haver nada nem ninguém para desiludir ou por quem ou quê se desiludir. É tão mais fácil a solidão. É tão mais fácil fechar os olhos e os sentidos e deixar tudo ir embora, até não restar nada a não ser a paz de um corpo que não sente.
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