As saudades que eu tenho da minha avozinha e das histórias que ela me contava. As saudades que eu tenho de tudo o que passa tão depressa que a gente mal consegue sentir-lhe o sabor. Como os anos.
Ela era velha. Tão velha que era. E no entanto só tinha vinte anos. A sua mãe, com a mesma idade, tinha sido bonita, ela não. Não era bonita. Sabia disso e importava-se, importava-se tanto.
Ser bonita não interessa. O que interessa é ter alguém que nos diga isso. E ela não tinha.
E ninguém entendia. Nunca ninguém entende nada. As pessoas só entendem quando já é tarde.
Um dia cruzou-se com ele. E foi como se os anos recuassem. E foi como se o seu rosto ganhasse cor. Porque agora já se podia mirar no espelho de outros olhos. E já podia ser bonita sem medo.
Ele era velho, também. Tão velho. As costas curvavam-se, os ombros caíam-lhe. Mas aprendeu a ser novo, ao lado dela. Ambos tinham vinte anos, e uma grande vontade de viver.
E só com uma grande vontade de viver se pode ter vinte anos, e a vida toda pela frente.
Às vezes uma fotografia vale por um dia inteiro. Assim como um pequeno acontecimento vale uma vida inteira.
A mulher depressa nasceu, como se a pressa fosse o mais importante. Nasceu ou floresceu, não sei bem.
O homem também nasceu depressa. E de repente estavam ambos velhos. Mas desta vez era só porque os anos tinham passado, e as recordações eram mais que muitas.
Eu sei que ninguém entende. Talvez seja mesmo preciso envelhecer. Que título vou dar a esta charada toda?
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