sexta-feira, agosto 26, 2011

Instante distante

Sonhei que te encontrava e, subitamente, não havia palavras. As mesmas palavras que antes eram o nosso ponto de encontro já não tinham significado algum, não encontravam eco e eram incapazes de qualquer intenção. As palavras morriam e o sonho era um filme mudo. Já não te via há tanto tempo, tinhas mudado, mais rugas, mais cabelos brancos. Imaginava as mesmas mudanças no meu rosto e sorria. Tu parecias não dar por nada. O teu olhar, porém, ainda era o mesmo. Nele estava contida a tua voz. Estranhei a tua proximidade, porque nunca antes me aventurara a imaginar-te tão íntimo. Tão meu. Meu, porém, era apenas o tempo onde o silêncio se deitava, para nunca mais acordar. Meu era apenas o vazio antes habitado pelas nossas palavras. E minha era a distância que nos separava, e estava ali, inteira, nas minhas mãos. Abri-as, às mãos, e deixei-a voar, uma ave cinzenta cujas asas, ao longe, se encheram de cor.

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