domingo, setembro 04, 2011

Basta

Gosto de gelados, de praia, do verão. Não gosto de ter os pés frios, nem de bróculos, nem de óculos espelhados. Gosto da neve. Não gosto do degelo nos polos. Gosto de animais, mas fora de casa. Não gosto de música aos berros, de sapatos apertados ou de cerveja. Gosto de andar descalça. Não gosto de me expor. Gosto de nadar, de andar, de deixar andar. Não gosto de correr, nem de sofrer, nem de temer. Ou tremer. Gosto do por do sol, das cores do arco-íris, de céus sem limite. Não gosto de andar de avião. Mas ando. Também não gosto de andar de metro. E só não ando porque, por enquanto, não preciso. Gosto de andar de comboio, e de barco. Gosto de andar de baloiço. Gosto de dormir, e de acordar cedo. Também gosto de dormir, e de acordar tarde. Gosto de não fazer nada. E detesto não saber o que fazer. Não gosto de correrias. Gosto da calma, do silêncio, da tranquilidade. Adoro o som de um regato a correr. Gosto de um bom filme. E não gosto de filmes maus. Bullshit. Gosto de dizer palavrões, mas não gosto que os meus filhos digam. Mas às vezes deixo-os dizer. Não gosto de ter medo. Gosto de estar em casa. Gosto de escrever. E de ler. E de ouvir música. Não gosto de não saber o que dizer. Nem de falar em público. Nem para o boneco, ou para as paredes, o que vai dar no mesmo. Não gosto de pessoas que têm a mania. Ou que estão convencidas de que não têm a mania, mas têm. Não gosto de quem acha que tem sempre razão. Não gosto de aldrabões. Nem de trapaceiros. Tão pouco de pantomineiros. Gosto desta palavra, pantomineiro. Melhor ainda, pantomineiro de um cabrão. Também não gosto de falinhas mansas. Nem de lambe botas. Não gosto de capachos, nem de paus mandados. Não gosto de engolir sapos. Não gosto de vomitar. Nem de me engasgar. Gosto de respirar. De gritar. De chorar. Também gosto de rir, sim. Mas não gosto que me façam cócegas. Gosto de massagens nos pés. Gosto de beijos, de festas na cabeça, de carícias, de tudo o que na pele seja meu e da minha vontade. Não gosto da dor. Não gosto de mentir. Nem de mentirosos. Não gosto de covardes. Não gosto de bêbados. Não gosto de palhaços. Não gosto de teatros. Mas gosto muito de teatro. E um número de palhaços, se for bom, também. Também gosto de cinema. E de festas. E de estar com amigos. E de muita gente. Tanta gente. Gosto de saber que posso contar com alguém. Gosto de saber que não estou sozinha. Mas gosto de estar só. E gosto de estar acompanhada. Gosto das coisas com conta, peso e medida. Gosto da verdade e de dizer a verdade. A minha verdade. Gosto de dizer o que sinto. Gosto de dizer que não gosto quando não gosto, e que gosto quando gosto. Gosto de ser eu. Não gosto da outra que tenho de ser por conveniência. Não gosto de fingir. Não gosto de fingir que gosto quando não gosto. Não gosto de me sentir obrigada a fazer o que não quero. Não gosto de sentir que não posso dizer basta.
Basta!

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei!

Beijinhos!

Guida Varela