domingo, setembro 25, 2011

Escolha

Tinha feito uma escolha. Cedo de mais para saber o que escolhia.
Fora o medo a guiar-lhe os passos.
Tivera de abandoná-la.
Como a mãe que tomou a decisão de salvar primeiro a filha, quando o carro em que seguiam caiu ao rio. Quando as equipas de socorro chegaram já não foi possível salvar o filho.
O rapaz era mais velho, mais forte, talvez por isso a mãe tenha optado por socorrer primeiro a filha. Talvez pensasse que ele se conseguisse desembaraçar sozinho, e ela não. Talvez.
O que passará pela cabeça de uma mãe numa situação destas?
Terá de viver para o resto da vida com a escolha que fez. Conseguirá perdoar-se?
Conseguirá sobreviver?
Também ela fez uma escolha. Optou por fechar a porta, e deixá-la do outro lado. À criança. À verdade.
Mas o que é a verdade?
Fechou a porta. Deixou-a lá. E agora?
Talvez não seja tarde. Talvez desta vez as equipas de socorro cheguem a tempo.
Não, essa parte de si não está morta. Ainda pode recuperá-la. Olhá-la nos olhos. Abraçá-la.
Matá-la? Preparar-lhe o funeral com pompa e circunstância, discursar junto à lápide, festejando a sua libertação na morte?
Que coisa mais disparatada.
Fazem-lhe arrepios, essas almas iluminadas que prometem milagres empacotados. É só juntar água.

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