quarta-feira, setembro 28, 2011

Poesia (4)


(imagem retirada da net)


Trazes a noite sumarenta na boca
E estrelas encharcadas nos braços
Trazes os passos mortos de cansaço
Trazes os olhos húmidos de ventania
Trazes a garganta inflamada de grilos
E a voz abafada, escura, apedrejada

Foges da multidão que te persegue
No rasto do teu medo
Trazes botas cardadas
Com calcanhares de aço
Trazes pedras esquecidas nos bolsos
Trazes flores nos cabelos
E almas perdidas nos becos da memória

Trazes o fio da história preso ao pescoço
Trazes a vida embrulhada no fundo da mala
Trazes livros, dezenas de livros
Que nunca lerás
Mas sabes de cor

Preso ao teu sentir
Por mil palavras amordaçadas
Vais lançá-las do cimo do morro
Vais lançá-las na multidão em chamas
Que te aguarda, expectante
Que te acusa, vigilante
Que te resgata da solidão errante
E tu, que não tens nome
Vais gritar lá de cima
Bem alto
O nome do teu medo
Escuridão

1 comentário:

Isabel Metello disse...

Adorei, Far, Far, Away- a sério! Quando publicar, apite que eu publico no meu blog com todo o gosto :) abraço