sexta-feira, outubro 07, 2011

Segurança

Nova rotura. Nova quebra. Nova perda? Não, não considero que seja uma perda. E há ganhos, também. Nestes oito meses fui abrindo portas e visitando lugares que há muito estavam esquecidos. Alguns quartos fechados, as mobílias cheias de pó e teias de aranha nos cantos. As portas custam a abrir. Muitas delas trancadas a sete chaves há décadas. Algumas, muitas, ficaram por abrir, e é isto que mais lamento, o saber que, agora, já não as chegarei a abrir, pelo menos aqui, contigo. Não estou a desistir nem a ser pessimista. As coisas têm uma continuidade, a confiança constrói-se. Passo a passo. E leva tempo. Leva muito tempo. O que construímos até aqui já não se apaga, claro; mas isso tinha um propósito, um objetivo, que era o de preparar o caminho, construir um edifício capaz de aguentar com os abanões, os altos e os baixos da descoberta. A descoberta nem sempre é excitante ou aliciante. Muitas das vezes é dolorosa, penosa, massacrante. Precisamos de nos conhecer e da serenidade que o conhecimento acarreta; porém, as águas agitam-se e o caudal aumenta, sentimos a enxurrada chegar, uma montanha furiosa que não dá tréguas, e sabemos que a serenidade não mora aqui, que nem sequer sabemos pronunciar tal palavra, porque foi coisa que nunca ninguém nos ensinou.

Mais do que uma jangada para rasgar as águas, mais do que um porto onde chegar, precisamos da certeza de que não estamos sós no meio dessa tempestade; que alguém, ao nosso lado, nos dá força apenas no facto de estar ali. Uma testemunha silenciosa, ou não. Alguém que connosco caminha e, nesse gesto, nos dá um espaço de segurança que sabemos nosso. Um espaço onde sabemos poder voltar, sempre, indefinidamente, até dele precisarmos. E quando não precisarmos será apenas porque esse espaço terá sublimado as suas paredes e estará eternamente presente.

Até lá, porém, tem de ser uma presença constante. Uma presença mais sentida na ausência, que é onde se sente realmente aquilo que se tem. Uma presença tão forte quanto ténue, porque sabemos que nada é certo nem eterno. Todavia, dentro da incerteza geral dos dias, este tempo tem de ser capaz de nos dar a ilusão da eternidade e do apoio constante. Sem isso não serve o seu propósito. Não resulta. Não vale a pena fazermos malabarismos emocionais, tentando convencer-nos de que depende da nossa vontade. Não depende. Nós não nos sentimos seguros porque nos apetece que assim seja, ou porque o queiramos muito; sentimo-nos seguros ou não. E quando os nossos sentidos nos dizem que não, não há nada a fazer.

Sem comentários: