quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Abaixo de zero

O ar está frio. Tenho eletricidade estática nos braços. Sinto-a arrepiar-me a pele, ao mesmo tempo que a envolve numa espécie de halo. O meu filho levou duas camisolas interiores, uma delas térmica, ou as duas, já não sei, e dois casacos. O mais velho não quis camisola interior e só um casaco. Eu se pudesse hibernava até Março, quando as flores começarem a despontar. Mas depois há os minutos que escorrem lentos, as horas que se quedam e os dias a correr. Os dias que nos fazem mais velhos, ou não. Quanto dias faltam para me sentir outra vez eu? Talvez não seja esta a pergunta, porque afinal, nunca fui eu mesma como agora, que conheço, ou começo a conhecer, a minha história. Sim, é fundamental conhecermos a história, não a do mundo, mas a nossa. A do mundo não passa de uma fábula; a nossa, ainda que enfeitada ou deformada, e ainda que confabulada, é o que nos define. Quantos dias, portanto, para que consiga, finalmente, ser eu mesma, conciliar as duas metades e tornar-me numa só? Não há nada mais cansativo do que uma vida dupla. Mata-nos, definha-nos, enfraquece-nos, e, acima de tudo, convence-nos da impossibilidade de sermos felizes, torna-nos reféns do medo. O medo pode ser um poderoso aliado, apenas quando não nos submetemos a ele.

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