sábado, janeiro 21, 2012

Papu

Ver o meu nome, Papu, escrito no último livro do José Luís Peixoto, Abraço, é muito estranho. Não é só estranho, é também imcompreensível. Apesar de saber que não é a mim que se refere, sou incapaz de ver estas quatro letras juntas, papu, sem me ver a mim própria. O meu nome. Não me lembro de ter outro. Não me lembro sequer da história que a minha mãe conta, eu a repetir estas duas sílabas incompreensíveis de cada vez que ela me pedia que dissesse o meu nome. Sempre fui a Papu. Em casa e na escola. Muito pouca gente me chamava pelo meu nome verdadeiro. Eu era a Papu e não havia outra criança no mundo que se chamasse Papu. Podia haver duas Martas, três Marias, quatro Margaridas, mas nunca duas Papus, muito menos três ou quatro. Quando chegaram os livros do Papu já eu deixara a primária. Os meus livros da primária foram o tu e eu, o escadote, o Romeu, e não me consigo lembrar dos outros. Lembro-me dos livros do Papu na monta da Ulmeiro, na Avenida do Uruguai, e de dar graças por já não estar na primária e ter sido poupada à humilhação que seria estudar por um livro com o meu nome, mas onde esse nome era o de um rapaz. Como é que alguém podia pensar que Papu era um rapaz? Só podia ser um engano, porque Papu só havia uma no mundo e era eu. Esta palavra de quatro letras, que eu aprendi a desenhar muito depois de as saber dizer, é o meu nome. Não sei porquê. Mas é assim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que engraçado, o meu filho quando era pequenino não conseguia dizer o nome dele, Pedro, dizia Pupa, e ficou pupa. Claro que como é rapaz, está a crescer e também vivemos em Inglaterra ( pupa tem uma má conotação por estas bandas), agora é só pupa em casa, mas é e será sempre o nosso pupinha lindo :)