domingo, julho 01, 2012

A mulher dos braços grandes

A mulher tinha uns braços enormes, tão longos que mal conseguia avistar as mãos, perdidas nas brumas do horizonte. Há muito tempo, fora isso que lhe permitira desligar-se delas; do que faziam, do que tocavam, do que sentiam. As mãos um território estrangeiro, alheio, desconhecido. Um planeta distante numa galáxia a milhares de milhões de anos-luz.
Com o passar do tempo o tamanho dos braços tornou-se um problema. As pessoas tropeçavam neles constantemente. Ela própria se enredava nas voltas e reviravoltas que com eles tecia, na vã tentativa de os encolher. Era impossível continuar a viver com tamanhos braços.
Foi quando decidiu enrolá-los à volta da cintura, como fazia aos casacos e às camisolas quando era pequena e queria correr à vontade. Enrolou-se então neles, metros e metros de carne inútil, deixando apenas de fora as extremidades que terminavam nas mãos, numa medida exata correspondente ao tamanho de uns braços normais.
E é assim, amarrada no próprio abraço, que enfrenta os dias. Um abraço que a mata e a conforta em proporções iguais. Um abraço desproporcionado que aos poucos se tornou na sua própria pele.
Ninguém dá por nada.

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