Há muito tempo que não peço nada ao Pai Natal. Hoje, no entanto, vou pedir algo muito especial. Pai Natal, olha bem para mim. Vê-me com olhos de ver. Não tenho vocação para mártir, muito menos para vítima; já chega de provas de fogo. Só quero ficar em paz, não entendes? Sou uma pessoa igualzinha às outras, fico feliz com pequenos gestos, que afinal são os grandes gestos, e dói-me quando me magoam. Tenho a minha quota parte de defeitos, como é evidente; não sou perfeita. Erro, e caio, e levanto-me. Mas sei quem sou, e o que não sou é falsa, dissimulada, hipócrita ou vingativa. Aquilo que digo é a verdade do que sinto; aquilo que pratico tento que esteja em concordância com essa verdade. Tudo aquilo que quero neste momento é paz; paz para mim e paz para todos aqueles que, como eu, tentam levar a vida o menos dolorosamente possível. Viver é muito bom, mas também dói. Não nos podemos divorciar da dor. Sofremos, e temos todo o direito de o expressar. Temos o direito de nos indignar, zangar, revoltar. E dizer basta. É isso que eu queria, Pai Natal. Ter o direito de me zangar. Ter o direito de dizer o que sinto. E que as pessoas me olhassem como alguém que tem esse mesmo direito. Sem me julgarem. Sem me rotularem. Quem me conhece sabe quem eu sou. Quem não me conhece julga-me e rotula-me. A minha dor conheço-a eu, mais ninguém. E, neste momento, arrogo-me o direito de cuidar de mim, e da minha dor.
Aquilo que eu no fundo queria, Pai Natal, era que deixasses um bocadinho de lado esse teu disfarce de barrete vermelho e barbas brancas, e te tornasses apenas um pouco mais pai. Que deixasses de dar prendas aos meninos com base no seu bom comportamento e obediência ao longo do ano, e olhasses mais para as crianças que aí estão, espalhadas pelo mundo. Que olhasses para a tua criança, aquela que ainda tens dentro de ti, e pudesses estender-lhe a mão. Esquece os presentes. As coisas mais importantes desta vida não são coisas. Cada um de nós tem uma voz que tem de se fazer ouvir. Essa é a prenda que a humanidade precisa. Coragem para dizer o que sente, força para lutar no que acredita, e intolerância máxima com as injustiças. Liberdade para se ser aquilo que se é.
Mas isso é uma coisa que tu nunca aprendeste, não é, Pai Natal?
1 comentário:
Que bom Papu.
Vim aqui agora, sem grande esperança de coisas novas e deparo com estas páginas, sinal de que o blogge ressuscitou, aliás como é afirmado.
Cá voltaremos.
Beijinhos,
tio João
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