sábado, dezembro 22, 2012

Sobreviver

Tudo o que disse no post de baixo é válido, apenas com uma única exceção: quando uma das partes envolvidas é uma criança. Uma criança não tem qualquer capacidade de resolução de conflitos, pelo que essa responsabilidade cabe totalmente aos pais. Cabe ainda aos pais criarem as condições necessárias para que a criança se sinta livre de expressar o que sente. Sem essas condições, que são uma espécie de confiança básica, uma criança pode facilmente reprimir-se e ocultar o que sente, por medo. Uma criança depende totalmente dos pais para sobreviver, e esta dependência é essencialmente afetiva: é do amor dos pais que ela  depende. Por este amor uma criança faz qualquer coisa, até mesmo anular completamente o que sente, se se aperceber de que a sua expressão honesta e genuína pode conduzir ao desinvestimento afetivo de um dos pais, ou ambos. Esta anulação dos próprios sentimentos deve ser encarada como um mecanismo de sobrevivência básico, e pode ter consequências avassaladoras, dependendo do grau com que é praticada. Uma criança pode, assim, divorciar-se completamente dos seus sentimentos, reprimindo-os, esquecendo-os, e continuar a viver como se nada fosse, aparentemente feliz, aparentemente normal. Aliás, se ela intuir que qualquer sinal de que algo não está bem com ela, por mais fugaz que seja, poderá conduzir à perda do amor de um dos pais ou ambos, fará tudo o que estiver ao seu alcance para dar uma imagem de criança normal, adaptada e feliz. A dissociação pode ser de tal ordem que ela tomará essa imagem de si mesma pelos seus sentimentos genuínos, e sentir-se-à verdadeiramente feliz. A verdadeira identidade dos seus sentimentos, aqueles que foram reprimidos, estará porém sempre presente, ainda que inconsciente, e um dia virá ao de cima. Podem passar muitos anos; décadas; a verdade do que somos acaba sempre por nos encontrar.

1 comentário:

Anónimo disse...

True.