quinta-feira, outubro 17, 2013

As voltas que a estória deu



Não, ainda não comecei. É difícil. Tem sido difícil. Tenho vindo a aproximar-me dele através dos olhos de outras pessoas, personagens que inventei. Sempre a vê-lo de longe, de ângulos fugidios, às vezes mais perto, às vezes quase que. Mas as mãos sempre outras. As estórias, a girar em volta dele, numa espiral elíptica, em velocidade ciclónica. Agora é tempo enfim de lhe ouvir a voz, de lhe experimentar os sapatos, de lhe tecer os passos. Tem sido difícil, as vozes ficaram de súbito em silêncio. As vozes do rio, lembram-se? É essa a primeira página do diário, o tal diário que se perdeu e que eu renasci das cinzas. Um diário de viagem; nesta caso, a viagem de um homem ferido e apaixonado, que se reencontra noutro continente, lá longe, abaixo da linha do equador, onde o sol brilha mais. Imaginei-o um homem apaixonado, ou um homem de grandes paixões, se quiserem. Acho que um grande homem tem sempre um coração grande, e um coração sem paixão não sobrevive. Estou a revelar coisas que se calhar não devia, porque a surpresa é mestra do entusiasmo, por isso vou-me calar e relembrar as vozes do rio. Talvez ainda mude o título e passe a chamar-lhe assim, simplesmente, as vozes do rio.

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