domingo, junho 26, 2005

NOITE

a noite.
o silêncio.
a casa mergulhada no sono das crianças.
o sono dos anjos.
a respiração.
o som da roupa no deslizar súbito do corpo.
um gemido abafado. um choro baixinho.
gritos de pesadelo.
uma mão na testa, palavras sussurradas, eis que o sono volta
lento, a encher o corpo
e o espaço.
passos na noite
o ranger do soalho debaixo dos pés
da rua vem a luz branca da lua
misturada com os candeeiros
e o silêncio. sempre o silêncio.
a noite.
a casa à deriva, na noite
como um barco naufragado
e pelas janelas de vidros partidos
entram algas, polvos assustados em manchas de tinta negra
fantasmas ocultos cobertos de areia da memória
medusas cristalinas com brilhos translúcidos de diamante.
um momento. só. uma eternidade
de silêncio
de sonho
de vida marinha
peixes nocturnos escamas molhadas
nas águas cortadas pelo nadar das sereias
das baleias grandes jactos de água e sons misteriosos
abafados suspiros respiração
choros gritos de pesadelo
e uma mão de palavras sussurradas
e um toque de magia
ternura
e o sono volta a encher o copo
e o silêncio volta a encher a casa
mergulhada
no corpo adormecido das crianças.

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